Sunday, June 02, 2013

A Modernização Seletiva. Uma reinterpretação do dilema brasileiro. Jessé Souza. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.

Rascunhos de leitura. 

O tema central do livro é debater os pressupostos que o autor considera como a interpretação dominante dos brasileiros sobre si mesmos. Essa auto-interpretação é denomina pelo autor como “sociologia da inautenticidade”. O que seria isso? Um Brasil modernizado “para inglês ver”, uma modernização superficial, epidérmica. A sociologia da inautenticidade articula com seus temas centrais os conceitos subsequentes de herança ibérica, personalismo e patrimonialismo.
Quebra das ilusões cognitivas que invadem as práticas científicas:
Senso-comum: ideias são entidades externas as práticas sociais, como se fosse independentes as “as coisas lá fora”.
Jessé parte do pressuposto de que existe uma íntima imbricação entre ideias, práticas e instituições sociais.
Senso-comum: percepção de que valores são criações subjetivas, estando à disposição da faculdade de escolha dos agentes.
Jessé considera que valores são criações intersubjetivas e impõem-se como uma realidade objetiva a cada um de nós.
Jessé compreende que “nenhum desenvolvimento nacional específico logra reunir todas as virtualidades fundamentais” da cultura ocidental, nem mesmo a “versão dourada” do excepcionalismo americano. Como procedimento realizou uma análise de desenvolvimento alternativos (EUA, Alemanha e Brasil), para ressalta a importância de criticar-se a noção de singularidade cultural brasileira se situa aquém e além do impacto da modernidade ocidental.
Capítulo 7
O Brasil representa uma variação singular do desenvolvimento específico ocidental. A interpretação dominante: singularidade cultural brasileira, a qual parte de uma especificidade predominantemente não-européia no sentido clássico: ibérica. Jessé conclui que nossa influência seria a de uma Europa pré-moderna.
Retoma as bases dos pressupostos de Taylor, naturalismo, esquecimento peculiar que a atitude natural assumida pelo agente na vida cotidiana envolve. “o hábito, a convenção, um horizonte de certezas compartilhadas irrefletidamente comanda nosso comportamento”. Para justificar que a concepção do Brasil Ibérico está profundamente entranhada não só na autocompreensão livresca mas também nas instituições e práticas sociais.
Escolhe três autores:
o primeiro deles Sérgio Buarque de Holanda que tem a concepção de mundo ibérica como um todo sobre o pensamento social brasileiro. 
Raimundo Faoro a versão institucionalista da concepção ibérica.
Roberto DaMatta a versão culturalista da concepção ibérica.
O que seria esta concepção ibérica em Buarque?
A principal crítica de Jessé é que Buarque é sobre a indefinição ou ausência de conceitos claros com respeito ao tipo de formação social que se desenvolveu entre os Brasileiros. Buarque compreender que a Península Ibérica seria assim uma dessas zonas fronteiriças “menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantém como patrimônio comum”.
O mote do personalismo, ou cultura da personalidade, escolhido por Buarque, é o traço mais característico e decisivo da cultura ibérica entre nós. Termo também ambíguo, mas que Jessé entende com a institucionalização da cultura da personalidade que impedirá a solidariedade, formas de organização e de ordenação horizontais no nosso país. A burguesia lusitana, na concepção de Buarque, assumiu os valores tradicionais do personalismo aristocrático, o que logrou torna-se código valorativo da sociedade portuguesa. Personalismo vincula responsabilidade individual e respeito ao mérito individual enquanto aspectos subordinados à própria personalidade. A ética personalista é compartilhada igualmente tanto por nobres como por plebeus.
A ideia central do personalismo, em Buarque, aponta para uma constelação de interesses e valores que encontram no próprio indivíduo sua razão de ser e seu norte.
“ainda como decorrência do mesmo fato temos a ausência da perspectiva dos acordos e compromissos racionais entre iguais. Em relação a tamanha autarquia individual os caminhos abertos são os do mando e da obediência irrestrita a partir de vínculos verticais de hierarquia”.
A nossa singularidade cultural é interpretada por Buarque como possuindo um vínculo de continuidade direto, baseada na cultura do personalismo de Portugal.(p.163)
O patriarcalismo, especialmente na sua versão patrimonialista, seria a forma política específica ao personalismo. (p.164) 

Sunday, March 17, 2013





Hoje eu acordei e não tinha certeza:
 - Meu coração está batendo!? Perguntei.

Na dúvida, corri, marquei com meu cardiologista. Auscultou e deu o diagnóstico:

_Pronto, Victor. Tudo mais ou menos Bem! Seu coraçã...não sei...ouço algo estranho! Mas...na dúvida vamos fazer um eletrocardiograma, é o protocolo!

_ Opâ, doutor, se é para me ajudar, né!

Fios, gel geladinho no ar-condicionado. Pronto!

_ Algo errado, não vejo sinais do seu coração, volte amanhã que vamos fazer com uma ressonância, seu coração deve estar em algum lugar!

Sorriu, passou a conta e algumas vitaminas B e ácido fólico. Falou que era para tomar sempre depois do almoço.

_ Inferno! Pensei comigo, retrucando:

_ Eu sem coração e ele me passa vitaminas.

Voltei para casa, coloquei minha mão, e ainda tinha dúvida. Coisas da minha cabeça, marquei um psicanalista. E ele confirmou:

_Algo lhe falta!

_Meu deus! É pior do que imaginava, alguém roubou meu coração!?

Liguei para Clô:

_ Oi!? Falou do outro lado da linha indiferente a minha falta.

_ Clô, sou eu...estou sem coração. Roubaram!

_ Como assim? 

_ Não sei, Clô..acho que foi numa saidinha bancária.

_Corra e vá na delegacia do Rio Vermelho! Te encontro lá.

Ansiosa sua voz me dava novas esperanças. Chegando lá, depois de passar 2 horas no engarrafamento entre o Bom Preço e a Mercado do Peixe:

_Queria prestar uma queixa...

_ Pega a fila, está achando que isso aqui “fast food”.

Bem, não tinha fila. O servidor saiu e retornou meia hora depois.

_Seguinte, o delegado não vem hoje. Qual o seu problema?

Falou o servidor com olho de peixe morto, sem o menor interesse em ouvir mais este problema.

_Roubaram o meu coração! Acho que foi numa saidinha bancária.

_ Caso grave, o meu também...eu que sou polícia não achei...

Sorriu levemente, mexendo os lábios sem mostrar os dentes. E continuou:

_ Caso perdido, companheiro. Se quiser...se quiser mesmo... preencha estas fichas, e entraremos em contato...CAAASO ache, mas acho difícil, problema recorrente, te ligamos.

Saindo, outro policial, de canto, bateu no meu ombro e disse:

_amigo, esqueça isso vem ocorrendo com freqüência. O último coração que achamos aquele policial usou.

Encontro-me com Clô na porta. Me abraça, torce o canto esquerdo da boca. Sentamos no banco de pedra em frente ao Mercado do Peixe, olhando o mar que quebra na praia, as ondas, o vento. Não, a poesia era outra. Um carro com o porta mala aberto dava o fundo musical.

Esse é o novo hit,a cara do meu verão
Todo mundo na muvuca vem curtir o swingão
O bebê aporrinhado
A mamãe tá danada
Ja ninou essa criança
Agora so quer chorar
E a morena e a lorinha e a gostosa,todas elas vao chupar
Toma negona,toma chupeta
Toma negona,na boca e na buchecha”
_ Clô, meu cora...


Antes de eu falar, percebi que estava triste. Esqueci o que não tinha, por um segundo, e perguntei o que foi:

_ O trabalho, hoje estávamos discutindo a política de humanização e saúde mental, o elevador caiu no poço.

_ Como assim, isso é uma metáfora!

_ Não, caiu, e ficou balançando com 5 pessoas. Fomos reclamar, e eles falaram que estavam criando situação para não bater o ponto.

Não conseguia, mas falar sobre isso. Aos poucos, desejava que minha voz sumisse.

_ Vamos nos levar para casa.

Saímos junto, andando pela orla. Abraçados. Mãos dadas. Sem falar nada. E nada ainda era muito. E vi que algo ainda batia dentro de mim. Aos poucos percebia que o meu coração estava lá o tempo todo, apenas em silêncio se guardando para se dá por inteiro o que está por chegar em nossas vidas.    

Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: As vezes apenas um segundo.

Então é isso, chegou a hora de partir. 

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Eu sempre fico me perguntando quem fui eu, na história que construímos. 

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Fica a música para galera curtir


Parte que fez minha alegria partiu partida
Se foi de vez, de vez em quando eu ando partido
Parte de um céu estremecido vem me partindo
O céu nublou mas não partiu de vez comigo
Por volta e meia voltar ao ponto de partida
Chegando em mim essa memória azul contida

Link: http://www.vagalume.com.br/fino-coletivo/partiu-partindo.html#ixzz2NnRcBHm1


Fui! Até...nos veremos por aí...

Saturday, June 09, 2012

Mu - Danças

Primeiro dia de Mudança.

Poderia ser algo simples e planejado. Hoje, tive que lidar com inúmeros imprevistos, e como isso aos poucos foi me desagradando. Pela manhã, combinei para pegar as chaves às 08 e 30h, só conseguir às 13h, por displicência do caseiro, que marcou comigo e não compareceu.

Com este desacerto, todas as pessoas que tinha combinado para ajudar, resolveram simplesmente, seguir com seus compromissos, e o imprevisto foi o anúncio de uma debandada. E outros amigos tão "dispostos" antes da mudança não estavam assim tão dispostos no dia. Quem abriria mão dos seus interesses para ajudar? Por mais que as pessoas desejem ser solidárias, a nossa sociedade é organizada pelo individualismo, sem nenhum tipo de atribuição de valor nesta constatação. Compromisso com o trabalho, com o estudo, com o lazer, com a família, ainda mais em pleno feriadão, decidia as prioridades dos companheiros... é...estava querendo demais dos companheiros, a solidariedade é um momento, não um ato contínuo e organizador de algumas classes. Talvez seja das classes populares que necessitam do ato solidária para garantir as relações e a sobrevivência. Dancei na mudança, dancei só...quase só.

Ora, mas quem estava lá me ajudando, firme e forte, uma senhora de 72 anos, minha mãe. Sim, as mães...sempre plena de força, e nós filhos sempre plenos de reverência e gratidão.

Não conseguir chegar na casa ainda, digo senti-la, estava com muita energia retida, sujeira, sinais de desarmonia, mas aos poucos vou dar novos ares. Pensei muito em Clô, ela estaria do meu lado...no final do dia queria vê-la, compartilhar coisas, desabafar, refletir sobre a vida, sujeitos e sociedade.

Seguimos. A experiência de estar só, ainda que alguns sinais de ajuda, se inicia no primeiro dia.


Wednesday, December 08, 2010

"É melhor perder o que nunca se teve..."

Isso faz parte da série, diálogo com anima.

Andei pensando nas razões da paixão - se é que elas existem - e descobrir tantos motivos pelo qual me apaixonei por você que não suportaria te perder. A sua perda não seria em nenhum momento desilusão, mas apenas uma dolorida perda. Os motivos por quais poderia te amar não são frutos do meu imaginário ou podem ser, tanto faz, mas eles existem, realmente, em você. São qualidades tão vivas e raras de se encontrar. Se eu termino o que nunca começou, porque "é melhor perder o que nunca se teve". O meu amor será eternamente perfeito, assim. Vivo dentro de mim todos os momentos felizes que poderíamos passar juntos, eternamente perfeitos. "As pessoas felizes vivem de saudades divididas", eu viverei de saudades não vividas. Deixa eu pegar na sua mão e dizer que te amo, essas são as poucas lembranças vivas que guardarei comigo.

Diálogo com a anima

Em algum mês entre 2004 e 2005, escrevi este texto, para quem foi?...foi um diálogo com minha anima. Estou voltando a conversar com ela novamente.

Eu preciso escrever algo. Eu não consigo dormir direito. Das poucas horas de sono, você ocupava todos os sonhos. Eu não quero te esquecer. Faça-me dissociar amor da desilusão. Na quero mais estabelecer relação entre estas duas palavras, apesar de uma não viver sem a outra, diria para existir vida plena precisamos de desilusão intermitentes. Desejaria amar da maneira mais ampla e mais bela, compartilhar segredos; pegar na sua mão, andar pelo parque, ficar ao seu lado sem dizer uma única palavra. Não posso mais.

Começarei a tentar te esquecer. Quando mais tempo evito te esquecer, mas fundo se torna. Trate-me com alguém que passou na sua vida, e te disse, Bom Dia drummoniano! Eu vou fingir que tudo não passou de um sonho que eu dizia que te amava, e você despejava em mim sua face fria, pedindo desculpas por não me amar. Pensei em não chorar por você, mas quando me lembro que é tão bom ficar ao seu lado...eu me dou algumas lágrimas (minha face transforma-se em uma pequena cachoeira), cada lágrima é uma despedida, na qual se desfaz meu amor, na qual se desfaz você.

Mesmo assim, te agradeço por me lembrar que posso amar. Escrever esta carta está sendo mais difícil que imaginava. Estava tentando ser forte, e não pensar em você, mas entendi que ser forte é pensar em você todos os dias, se cada lágrima representa um pouco de amor, ainda tenho muito que chorar. Como é bom saber que estou vivo. Queria que a partir desta carta tudo voltasse ao que era antes, não precisa você escrever ou me dizer algo. Uma carta de amor é simplesmente mais uma carta...

Paixões da alma 1

Paixão (termo grego pathos - passividade do sujeito, experiência infligida, sofrida, dominadora e irracional)

- o grego sempre viu na experiência de uma paixão, algo misterioso e assustador, que o possui em lugar de ser por ele possuido. Entretanto, o entendimentdo deste estado se diversificam entre os gregos, nem sempre completamente dominadora e nem sempre desfavorável ao indivíduo.
Apesar da crítica de Descartes, no art.1 do ensaio "As paixões da Alma, aos antigos, julgando-os que os ensinamentos dados sobre as paixões é tão pouco, e na maior parte tão pouco crível. Podemos perceber no texto de Benedito Nunes, "A paixão de Clarice Lispector" elementos que aproximam o ensaio de Descartes e o entendimento dos gregos arcaicos e dos filósofos vindouros quanto a paixão.
Descarte quando apresente no art.50 que não existe alma tão fraca que não possa, sendo bem conduzida, adquirir poder absoluto sobre as suas paixões, indica similaridades com os ideais gregos, que nem sempre as paixões são completamente dominadora, nem sempre desfavorável ao indivíduo. Descarte reforça o pensamento grego, “as paixões são todas boas por natureza”, só devemos evitar o seu mau uso ou os excessos (hybrys).

Os filósofos gregos, no período clássico, sobretudo Sócrates e Platão, consideravam as paixões uma fonte de energia, tanto para as atividades sensual quanto para as atividades intelectuais. O pensamento racional estaria comprometido com a comoção da alma. A negação extremada pelos estóicos, cuja conduta racional, possibilitada pela prática da virtude, incluindo a disciplina intelectual de controle das representações ilusórias, culminaria na conquista da anima impertubável, ponto defendido por Descartes no art.49 (que a força da alma não basta sem o conhecimento da verdade). Descartes se distancia dos estóicos quanto estes consideravam as paixões más.

Thursday, February 19, 2009

A prova da prova

Este texto foi desenvolvido na aula da professora Vera, após lermos um poema. época de faculdade, escritos antigos, páginas amarelas.


A vida é a prova da prova. É ler, decodificar, interpretar e expor idéias a eternas apreciações. Nossas idéias estão o tempo todo sendo vigiadas, todos querem saber seu grau de normalidade. Participar de mundos, entender esses mundos, ou fingir que entendeu, o importante é que as pessoas não saibam que nós não sabemos nada, porque aí nós sabemos demais. Vamos fingir que está tudo bem! Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2 + 2, hum...4! Você é um menino inteligente Joãozinho, já pode participar do nosso grupo. Estou cansado destes rebanhos que ensinam suas limitações e ganham um salário por mês...e vai ser diferente? Não, mas aprendemos suas limitações e provamos que sabemos o que eles estão dizendo. E quem sabe não ensino o que sabe, porque ese sabe que não sabe nada, mas ele não diz, ele não ensina o que sabe, porque isto não pode ser dito, é melhor que todos saibam que ele sabe, e então ele ensina o que querem, mesmo sem saber. Se a rocha falasse, mas ela não fala, porque ela sozinha é grão; e ela precisa fazer parte da montanha. As pessoas jogam com a iggnorância dos outros, e assim o mundo vai. Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2 + 2, ah 4! o GAFANHOTO pula alto e um dia eu pularei também.

Gafanhoto


Desvendar mundos pode trazer alegrias, tristezas ou indiferenças, nem sempre é a expectativa desejada. Um acha lindo o que outro acha um completa estupidez. E quem é o certo! Eu quem não sou! Nem com o que eu digo, nem com o que penso. "A vida é desenhar sem borracha" (Millôr Fernandes). Para quem tem lápis, Millôr, para quem tem lápis! Ih, a minha ponta quebrou, alguém tem apontador? mas o que era mesmo para ser visto, se o gafanhoto pulava alto...há, há, há...see o gafanhoto pulava. Ele pula e eu também, um dia caímos fora, mas normalmente caímos dentro, mas vamos pulando! Pula gafanhoto que o dia precisa passar.

Sexta--Feira 13 - A mudança

Sexta-feira 13


Não poderia ter data melhor para minha mudança de Juazeiro. Data marcada pelas histórias de terror, pensei que só fizesse referência aos últimos acontecimentos da minha vida, mas assim que entrei no carro de mudança, essa data quase tornou-se significativa para as pessoas que ficariam vivas caso viesse a morte na minha direção.

Então, vamos contar a história do início. Passei a semana numa tensão muito grande na tentativa de conseguir um carro de mudança que ficasse com o preço razoável. Depois de muito procurar, tomei a decisão de um amigo vir me buscar, pois tinha um carro utilitário que caberia tudo, quem viria dirigindo seria meu irmão, que achou por bem, não aceitar a proposta, pois o carro não tinha seguro. Achei aquilo uma desculpa, e decidir pegar um ônibus a Salvador e vir dirigindo o carro sozinho para pegar minha mudança, logo depois que avisei aos meus familiares sobre isso, recebo um delicado telefonema de minha irmã dizendo que seria melhor alugar um carro, e vir com o tal do seguro, que todos estavam tão preocupados. Voltei atrás, liguei para o meu amigo, desmarquei a viagem, e pedi para o meu irmão, conseguir o tal do carro alugado, inicialmente seria um carro maior para garantir que toda mudança viesse com segurança.

Sem surpresas, por mais que meu irmão procurasse, não achou o tal do carro, em toda Salvador, ainda insistir que fosse um carro pequeno, e ele insistiu em fazer inúmeras perguntas para ver se o carro dava ou não dava a mudança, por mais que informasse que isso já tinha avaliado. Na minha impaciência fraternal, e por perceber que ele pouco estava se importando com a segurança, mas com o incômodo dele viajar para Juazeiro, desistir desta estratégia e eu próprio resolvi solucionar um carro para mudança.

A primeira opção pagar quase R$1.000,00 para fazer a mudança, a segunda era arriscar num caminhão que fizesse descarga em Juazeiro e eu pagaria em torno de r$350,00 para minha mudança retornar num caminhão para Salvador. E assim foi, às 16:00 horas meu telefone toca, era o intermediário deste caminhão informando que viajaria às 18:00 para Salvador, perguntei se era carro baú, ele disse que sim, fiquei bem empolgado e topei a idéia.

O motorista para o carro baú na minha porta, e assim que coloquei a primeira caixa, vir que a temperatura era bem agradável dentro do baú, considerando o calor insuportável do sertão. Bem, até então só a minha mudança iria chegar um pouco mais resfriada em Salvador, era um caminhão freezer com produtos perecíveis. O motorista não sinalizou nenhum tipo de problema, outro detalhe que me chamou atenção, é que tinha uma pequena carga de alimentos refrigerados junto a minha mudança, ao perguntar se teria algum problema junto à polícia rodoviária, ele falou que não.

Perguntei a Jefferson, um colega que conseguiu o intermediário até chegar no motorista, se eles se conheciam, e Jefferson muito tranquilamente falou, “sem problemas o rapaz é de empresa, eles já se conhecem, olha lá sua farda”. Achei o motorista um pouco “esperto”, cheio de malandragem, comentei com Jefferson pela segunda vez, e ele disse que nada, “você que é um baixinho invocado”. Tudo bem, entrei no carro com uma latinha de cerveja, e o primeiro sinal foi dado, o motorista gritou “ah, você gosta de uma cerveja, vamos parar ali”, eu respondi “não, só estou bebendo está latinha para relaxar, você quer?”. Para o meu agrado, ele rejeitou, e paramos num posto logo à frente, pois ele iria abastecer o caminhão, me chamou para um bar, que saiu três mulheres, duas com uma cara de mulheres arrasadas, e uma terceira toda arrumada, mas mesmo assim, lhe faltava algo de belo, na verdade lhe faltava tudo. Enquanto o caminhão e o motorista se organizavam, fiquei bebendo uma cerveja com as três damas, e percebi que uma delas iria conosco, perguntei e recebi a confirmação.

Inúmeras vezes, passou pela minha cabeça, qual o motivo daquele encontro, por que deveria escutar as histórias de sofrimento daquelas mulheres? E elas preferiram dizer os discursos que lhe davam certo ar moral, como boas herdeiras da cultura cristã, a estratégia era de se penalizarem, mostrarem inúmeras dificuldades e negarem a vida de prostituição, no final do discurso havia implícito uma solicitação financeira de apoio, que se resumiu a pagar uma cerveja a mais por minha conta.

A senhorita que viajou conosco aos poucos cedia este discurso para um mais próximo das suas atuais imagens enquanto pessoa: já foi envolvida em inúmeras brigas, presa por um ano e oito meses por tentativa de homicídio, o que deve ter sido um homicídio. Já vendeu craque em São Paulo, cidade que se envolveu com um traficante morto pelos comparsas. E sem perspectiva iria visitar um namorado na penitenciária de Serrinha que conheceu na sua última estadia na cadeia, num interior próximo a Juazeiro, numa briga de carnaval. Pelo que eu entendi, ele era uma espécie de “xerife” da cadeia, tinha um respeito pelos outros marginais, e ela se encantou e se sensibilizou pela ajuda que ele ofereceu nos dias de prisão. Extremamente sensível a qualquer tipo de apoio, ela se apaixonou por ele, que tinha sido transferido por ter comandado uma rebelião na cadeia. Para finalizar esta introdução, ela estava viajando para Serrinha com uma acusação de roubo da última casa que trabalhou. E o namorado dela, desistam, dificilmente ele saíra da cadeia nos próximos 15 anos.

E assim seguimos viagem, até este momento, mais uma pessoa numa boleia pequena, tudo bem...o saldo positivo era que o motorista não bebia. Conseguimos partir após 40 minutos, e o caminhoneiro já era meu “amigo”, e iria me levar para um posto com uma “ótima rabada", que eu tinha que experimentar, no primeiro posto, logo após a saída da cidade, mas ainda em Juazeiro, ele parou, pediu mais uma cerveja. Neste ponto já desconfiado tinha parado de beber, vi que ele rapidamente tinha colocado coca-cola no copo dele, mas até então não sabia que ele misturava com conhaque, pois sempre dizia “deixa eu beber uma coca com café para ficar acordado”. Neste posto, achei por bem, ligar para alguns amigos, que não atenderam o telefonema, então liguei para Clô, e expliquei a situação a ela, e pedi para anotar a placa do carro por segurança, pois estava com maus indícios nesta viagem. Por sinal a rabada era horrível, eu mastiguei e não engolir.

Já era quase 20:00 e não tinha saído de Juazeiro ainda, liguei para meu irmão, e falei para ele que iria viajar à noite, e iria chegar de madrugada, e ele perguntou “e daí?”, e logo ele que estava tão preocupado com segurança, para fingir que estava tudo bem falei, “não, é só para me ajudar a descarregar o caminhão”.

Depois que saímos de Juazeiro conversamos sobre tudo, desde situações de crime até a vida de caminhoneiro, a minha vida, o sucesso profissional do caminhoneiro, a esperança da senhorita em encontrar um homem que a amasse de verdade. Com tudo isso, ainda tinha as investidas do caminhoneiro em levar a senhorita para casa dele em Salvador, ao invés de deixá-la em Feira de Santana e seguir rumo para Serrinha, a qual ela tinha ficado três dias sem namorar com ninguém para se dedicar ao seu amor na prisão, e o infeliz do caminhoneiro queria num sentimento de “comer” uma virgem, quebrar esta intenção sincera e sentimental da garota.

E assim foi, paramos em quatro ou cinco bregas ou bares, em todos o motorista bebia coca-cola com conhaque, e quando percebeu que eu estava me aborrecendo, falou para não me preocupar que ele conhecia o limite dele. A última parada, foi num bar que era ponto de tráfico, assim que descemos não tinha ninguém no bar, depois que paramos e pedimos um coca-cola apareceram mais de oito homens dentro e fora do bar, e o motorista foi intimado se estava acontecendo algum problema, assim que percebi o “barril de pólvora” que nos encontrávamos puxei o motorista, entramos no carro e seguimos viagem. E ele disse que sabia que ali era ponto de venda de drogas, mas estava tudo sobre controle, isso era logo depois de Capim Grosso, e a fala do motorista já estava embolada.

Eu não conseguia pregar o olho, porque a sensação de dormir era terrível, pensava que iria acontecer um acidente e eu iria morrer dormindo. Com tudo isso, o motorista ainda fumava no carro, e toda vez que precisava acender soltava as duas mãos do volante e o carro sai da pista ou pegava a outra pista, mas como vocês sabem não deveria me preocupar “pois estava tudo sob controle”, obviamente de Deus ou do Diabo.

Paramos para socorrer um outro caminhão quebrado, e nisso o motorista foi muito bacana, pois ele era também com "muito orgulho mecânico de carro a diesel".

E assim foi a viagem inteira, e quando não agüentava mais ficar acordado, tirei alguns cochilos que acordava completamente assustado quando caia na escuridão do sono e na perda dos sentidos com a realidade, uma experiência terrível. E tendo que ouvir e aceitar pelo menos enquanto estava no carro, que iria visitar o motorista para fazermos uma festa no fundo de quintal.

Era 4:00 da manhã quando chegamos em segurança, a garota foi arrastada para Salvador, e certamente iria dormir com o motorista. Eu só conseguia falar uma coisa para todo mundo, "parei em todos os bregas de Juazeiro a Salvador", repetia isso, sem pensar. Descarreguei o carro, e fui dormir às 05h da manhã com quase 24 horas acordado.
Conclusão: As sextas-feiras 13 existem.

Tuesday, February 17, 2009

escritos

Antigos escritos: uma das aberturas de um caderno que pode ser muito bem aceita como uma proposta deste blog, os tempos mudam e mudam as tecnologias de acesso a memória.

"Escreverei frequentemente minhas idéias e achados e percepção do mundo. Mundo é tudo aquilo que não sou eu. Falarei até mesmo de coisas banais ou que me parecem banais, mas quem sabe poderão ajudar a me compreender, seja num momento ou comportamento estabelecido. Tempos em tempos farei, até mesmo, perguntas com ou sem respostas. As perguntas são mais importantes que as afirmações. Aqui, tentarei exercer toda liberdade de pensamento, apesar de saber o quanto isso é difícil e perigoso. Nem sempre é bom grafar o que pensamos, pois nos expomos, caso alguém pegue para ler ou mesmo podemos fortalecer um comportamento indesejado. Colocarei todos os meus objetivos neste papel, reavaliarei e poderei tomar novos rumos depois de refliti-los"

Nem sempre isso que escrevi num caderno de notas foi possível, mas vale o registro.

Crítica de Platão a escritura

Estou agora no momento de resgastar meus antigos cadernos de notas, e suas páginas estão "amarelando", vou guardar algumas coisas que acho importante.

Crítica de Platão a escritura:

1. a escritura não é remédio da memória e não substitui a função da memória;
2. a escritura é um meio para evocar a memória;
3. ativar a consciência que já está predisposta a ser ativida;
4. a fala é mais dinâmica e viva do que a escritura;

Sunday, February 08, 2009

Mudança




Mudanças, mudanças, arruma, empurra, enrola., fecha, passa a fita...casa vazia! Esta vida boa vai acabar! Para equipe de plantão uma feijoada no quintal.