Solidão Partida...
Só encontro...
Só lidão partida
Retomo e recomeço
na minha inteira solidão.
victor
Rabinow, Paul. Antropologia da Razão. Artificialidade e Iluminismo. Tradução e Organização João Guilherme Biehl. Biopoder – “aquilo que faz com que a vida e seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos e faz do poder-saber um agente de transformação da vida humana” (FOUCAULT1 apud RABINOW). “Historicamente, as práticas e discursos do biopoder agruparam-se em dois pólos distintos: a ‘anátomopolítica do corpo humano’, âncora e alvo das tecnologias disciplinares, e um pólo regulador centrado na população com uma panóplia de estratégias concentradas no saber, no controle e no bem-estar2. Rabinow pesquisa uma nova articulação dos discursos e práticas do biopoder – pelo Projeto Genoma [Human Genome Initiative]. Segundo, o autor, “corpo e população estão sendo rearticulado naquilo que se poderia chamar de uma racionalidade pós-disciplinar” (p.135) Discute o posicionamento de Deleuze ao contra-argumentar Foucault, que atribuiu a linguagem da tríade antropológica – vida, trabalho, linguagem – uma importância na constituição de uma nova episteme. “O argumento de Deleuze não é o de que a linguagem é irrelevante, mas sim de que novas práticas que vão marcar época estão surgindo nos domínios do trabalho e da vida”. Contudo, ressalta Rabinow que é necessário considerar os termos heuristicamente, “considerando-os isoladamente e como uma série de pares de base unidos – trabalho e vida, vida e linguagem, linguagem e trabalho -, para verificar onde eles levam” (p.137). A pesquisa de Rabinow investiga o Projeto Genoma que está imbricado com avanços tecnológicos no sentido mais literal (1). E o mais importante segundo o autor, que o objeto pesquisado, o genoma humano, possa ser conhecido de tal forma que possa ser transformado. Eu realizo um paralelo quando a psicologia social, como forma de saber, se insere em comunidades de baixa renda, através de vínculos estatais ou não, com o pretenso discurso de Humanismo, com dois intuitos fundamentais: o primeiro, como ciência que tem como objeto o comportamento humano, avançar na compreensão humana e formas de convivência; e o segundo, que as comunidades que são implementadas projetos sociais possam ser conhecidas de tal forma que possam ser transformada. Como dirá Rabinow, “representação e intervenção, saber e poder, compreensão e reforma são construídos simultaneamente, a partir do início, como metas e meios” (p.137). O que me leva a discussão do conceito de humanismo, não seria um artificio para o antigo ideal europeu de civilizar os selvagens. Então, surge uma preocupação com o conceito de Humanismo e às “instituições e práticas a eles associadas”, procurando descrever o que está acontecendo (p.137). Por que se investe tanto dinheiro em projetos sócio-educativos cívicos, e oferecem tão pouco instrumento de reflexão crítica? O que me leva a pensar que querem humanizar, sem educar; e a educar, sem refletir. E quando falam em humanizar sempre se lembram dos pobres, que tal se surgissem organizações para humanizarem os ricos. Será inevitável não expor os tentáculos do Estado neste papel que limita e impõe as regras para os projetos sócio-educativos. Necessário rever historicamente os papéis das organizações que desenvolvem projetos sociais e sua atual ligação com o Estado. Analisar as imbricações políticas quando se propõe “Humanismo” aos pobres e as organizações bem intencionadas sustentam. E o Estado teria que estar disposto de posiciona-se diante da ética da sociedade, e não procurar manter o controle na população que foi marginalizada. 1 História da Sexualidade 1. A vontade de saber. 2 Ibid. p.134. |
Um dia um amigo me falou que lembrava de mim pelo riso. Outros sabem que estou presente em espaços públicos quando ao longe ouvem meu rosnado riso, outros criticam, acham estranho...me deparo com este texto de um filósofo alemão que me identifico sobremaneira.
“Apesar daquele filósofo que, exatamente como um inglês autêntico, procurou desacreditar o riso para todas as cabeças pensantes - ´o riso é uma doença triste da natureza humana da qual todos os pensadores deveriam fazer um esforço para se libertar´ (Hobbes) – permito-me estabelecer uma hierarquia dos filósofos segundo a qualidade de seu riso, colocando no ápice os capazes de um riso dourado. Admitindo que os próprios deuses cultivem a filosofia, o que várias conclusões levam-me a crer, não duvido, também, que eles, filosofando, saibam rir de um modo novo e super-humano, às custas de todas as coisas sérias. Deuses são brincalhões: parece que, mesmo durante a celebração dos ritos sagrados, não podem segurar o riso”. Nietzsche.
Este texto escrevi em outubro de 2006...faça sua própria avaliação do Companheiro LULA, neste passar de ano. O que mudou? ACM morreu e a esquerda baiana vai ter que olhar para o próprio umbigo. Lula começou seu mandato com a seguinte frase: “A eleição acabou. Não tem mais adversário. O adversário são as injustiças sociais”. Ora, mas por que o povo baiano precisa personalizar esta injustiça social em ACM? Praça da Mariquita, 29 de outubro, segundo turno para a presidência, todos já sabiam que Lula ia ganhar, mas estavam todos reunidos vibrando a cada ponto ganho como se fosse novidade, ou como estivesse ganhando de virada no segundo tempo, aos 40 minutos. Para entender este fenômeno aqui na Bahia, precisamos lembrar dos anos de poder carlista, depois de tanto tempo a sensação era justamente essa: “ganhamos de virada”. O povo ainda cantava a vitória de Jacques Vagner ou melhor a derrota de ACM: “eu, eu, eu ACM se...”. Estas três letras se tornaram tão importantes no imaginário baiano que mesmo perdendo ele ganhou. Ganha importância, ganha bordão, e continua o mesmo. O brilhantismo da vitória do PT está na "derrota de ACM", pelo menos aqui na Bahia. O que aprendemos com a política brasileira? Aprendemos que a doutrina “Roubo, mas faço” de Adhemar de Barros, é exercida por todos e engolida por muitos. Todos que moram aqui na Bahia estes últimos 20 anos tem em ACM a figura do mal. Eu acho que os baianos dão importância demais a ACM, mas creio que é por falta de referência política. Sinto dizer, mas o mal não se encontra em ACM, muito menos o bem em Lula. O adversário agora não é ACM, é esta tal de Injustiça Social. Sabiamente Lula personificou a injustiça social. Mesmo que eu não saiba muito bem o que é isso, ele vai lutar contra este monstro. Ele não, nós..."governo participativo". Precisamos saber o que é injustiça social! Só para lembrar...porque o Lula é muito esquecido, a primeira injustiça social que precisa combater esta debaixo da própria barba, no congresso, talvez a barba esteja grande demais, e ele não enxerga mais nada, a não ser ele próprio. Será que é combater ou deixar de práticar? A minha barba está de molho, companheiro Lula. Os holofotes agora estão em você. Esta é uma das questões, a injustiça social não é um adversário distante da gente, mas é para ser percebida em cada um de nós, em nossas pequenas ações. Esperamos que os próximos quatro anos muita coisa melhore. Não quero conviver com o discurso petista que você foi incompetente para roubar, e termos que conviver com a “corrupção democrática”, novo conceito que surge no meio político. observação: ACM não existe mais para ser o bode expiatório da esquerda baiana, talvez faça mais falta a esquerda às pessoas que um dia amaram ACM. Victor Brandão Povo soberano até ontem (29.10). |
Quando invade a sala Finjo que não te vejo Para não dizer o que é amar Respiro o teu perfume Sorrio com o teu sorriso E disfarço do teu olhar Quando andas Decoro os teus passos Fingindo não gostar Quando não olhas Repito os teus gestos Tentando te lembrar Se não escutas Falo a tua língua Pensando em roçar Escrevo poesias Invento fantasias Querendo te amar E se tu não passas Espero o fim do dia E vejo o sol declinar Renasce a esperança E durmo Pensando em acordar Às 7:00 da manhã Subo a ladeira Sento e espero você chegar Você invade a sala Finjo que não te vejo... |
O seu amor é algo tão delicado. Creio ser cristais que repousam na superfície do mar. Podem sempre ser vistos, mas jamais tocados. Com o sopro do vento sentem frio. Com o arder do sol se derretem. Com o tremer do mundo se desmancham. Todos que chegaram perto tiveram que voltar. Ofuscado belo brilho Eu fiquei cego. E a vida perdeu as cores. Os movimentos rápidos e festeiros tornaram-se lentos e melancólicos. Quem nada sofreu por você é porque nunca soube te enxegar. Caminharei só na escuridão, com a bengala em punho, no triste caminho trôpego de um cego. Cultivarei a esperança de reacender a luz dos meus olhos e apagar a chama da solidão. Do triste fim da perda dos olhos, Ganharei a paciência de caminhar. “A poesia é única prova que ainda somos capazes de enxergar com o coração”. |
Augusto Boal é um homem fabuloso. Ele disse justamente aquilo que por muito tempo eu queria dizer e fazer, mas não sabia o que era, Por quê? Porque no teatro, assim como em todos os setores de comunicação, vivemos idéias alienantes, estamos realizando determinado trabalho e não sabemos nem mesmo porque; não questionamos se é aquilo que desejamos e pudemos questionar?. Aí aparece um carinha para ajudar interpretar determinado texto, todos fingem que entendem, aquela interpretação tosca, superficial e vazia. “Mas não ?...” dizem eles, “...estamos falando de algo sério, nosso teatro é crítico.” Ninguém, contudo, pará para perguntar: para quem é este teatro ? para que serve ? que público vai atingir ? vai ter repercussão? Pouca importa. Eles foram pagos por esse hipócrita sistema político-capitalista, que apenas desejam uma peça que projete o nome de sua empresa; nada que ofenda, nada que faça pensar, nada de grandes emulações sociais, e o pior nada de grande mudanças pessoais, nem para o espectador, muito menos para o ator. É o teatro de fantoche com carne e osso. E quem é o operador dessses bonecos, certamente que é a “mão-invisível”, tinha que ser invisível, assim não podemos cortá-la. Então, eu nos meus afazeres cotidianos, deparo-me com “Auguto Boal exilado”. Quem é Augusto Boal ?Mas por que exilado ? Depois eu digo, o interessante é a sua vida, a sua obra, o seu projeto, ou melhor, o projeto dos outros, daquele que não tem voz, sem canais para se expressar como ser humano. A “mão-invisível” não é dele, sendo ele próprio invisível como ser humano. O que esse homem faz é o Teatro do Oprimido, “método conscientizador adotado já em setenta países mas ignorado neste Brasil”, detetor de uma línguagem, sem ideologias ou grandes mensagens milagrosas, não procuram interpretar a realidade, mas procura mostrá-la. Não teria como melhor exemplificar, descrevendo um trecho da entrevista dada a revista Caros Amigos, que me sensibilizou para um história tão simples sem perder a sinceridade e profundidade, vamos a ela: Oprimido é que em toda relação devia ter diálogo.(...)Mas todo diálogo se converte em monólogo(...). Então, quando você é despossuído do direito de falar, do direito de ter sua personalidade, do direito de ser, isso é oprimido. Ano passado, a gente tinha vários grupos, e eu vivo dizendo que eles são teatro mesmo que não façam teatro, porque ser teatro é trazer em você o ator. Porque você age, então você é um ator.(...) Aí, um dia, eles chegaram para mim e disseram: “Escuta, você vive falando pra gente que a gente faz teatro, que a gente é teatro, mas a gente só representa na rua, no Aterro do Flamengo, e nunca dentro de um teatro. Então vamos fazer dentro de um teatro.” Eles insistiram tanto, então vamos fazer. O pessoal de favela, empregadas domésticas, grupos em geral, Temáticos ou de comunidade. Eles queriam que a pessoa, mesmo que não tivesse dinheiro, fosse na bilheteria pegar o ingresso. Cumprir o ritual. (...). No domingo, último dia, as empregadas domésticas se apresentaram. Um sucesso, todo mundo gostou e tal, vieram me dizer que uma delas estava chorando.(...) Então ela me contou uma coisa maravilhosa. Falou que era empregada doméstica. E, como empregada doméstica, era ensinada a ser invísivel.(...) A comida é feita na cozinha, a comida vem pra mesa, os pratos vão embora, são lavados, quem é que fez? A empregada invisível, quer dizer, ela não existe. E ela tem que ser muda e surda porque, se num jantar tem pessoas conversando, ela não pode dizer: “Não, não concordo com você. Eu acho que...”. Então ela disse: ...fiquei muito emocionada, porque na platéia estava a família, para quem eu trabalho, no escuro. Me vendo e me ouvindo... foi a primeira vez que eles viram meu corpo, ouviram a minha voz e entederam o que eu penso...” (...) “...quando voltei pro camarim olhei para o espelho e vi pela primeira vez uma mulher...antes eu olhava e via uma empregada doméstica”. Comovente. Boal conclui da seguinte forma: “ ‘Mas Boal, ele transforma o mundo?’ Não; mas o fato de permitir que uma pessoa se olhe no espelho e veja uma mulher, um homem, cada um veja a si mesmo, isso já é um avanço extraordinário”. Augusto Boal, um filho de padeiro, que se formou em química, e escolheu o teatro como filosofia de vida, profissão, meio de sobrevivência físico-emocional. Que não quer falar, fazer nenhuma interpretação tosca, mas quer deixar que os outros falem. É isso que eu quero, estou feliz, esse é o caminho. Ah ! Por que é exilado? José Arbex Jr. Pergunta: “Você menciona o fato de que o teatro é conhecido em setenta países, lota os teatros estrangeiros, o centro de cultura francesa, etc., e no Brasil encontra essa coisa refratária ao teu método. Você se sente exilado dentro do Brasil ?”. Ele responde singelamente: “Ë isso mesmo”. |
Construímos abaixo (eu e Sumaia) uma suposta “entrevista” com Freud no primeiro ano de graduação. Buscando nos seus textos, sobretudo Totem e Tabu, as possíveis respostas ipsis litteris. Queremos, ou melhor, já que estamos falando de Freud, desejamos elucidar os temas que consideramos mais importantes e esclarecer algumas idéias básicas. Sigmund Freud, o senhor como pai da psicanálise, popularizou-se pelas suas idéias revolucionárias sobre o mecanismo psíquico, dividindo e ao mesmo tempo relacionando em dois processos: consciente e inconsciente. Sendo este último um dos motivos da polêmica da sua teori. Sem querer adentrar nas questões que movimenta esse mecanismo que seria a libido. Mas quero particularmente pergunta sobre a consciência. A consciência do tabu é a forma mais remota em que o fenômeno da consciência é encontrado? – “Sim, porque o que é consciência? Segundo as provas da linguagem, ela está relacionada com aquilo de que se está ‘consciente com mais certeza’. Na verdade, em algumas línguas, as palavras para designar ‘consciência’ (no sentido moral, conscience, N. do Trad.) e ‘consciência’ (no sentido de percepção do que se passa em nós ou ao redor de nós, consciousness, N.do Trad.) mal podem ser distinguidas. A consciência (conscience, N. do Trad.) é a percepção interna da rejeição de um determinado desejo a influir dentro de nós. A ênfase, contudo, é dada ao fato de esta rejeição não precisar apelar para nada mais em busca de apoio, de achar-se inteiramente ‘certa de si própria’. Isto é ainda mais claro no caso da consciência de culpa – a percepção da condenação interna de um ato pelo qual realizamos um determinado desejo. Apresentar qualquer razão para isto pareceria supérfluo: quem quer que tenha uma consciência deve sentir dentro de si a justificação pela condenação, sentir a autocensura pelo ato que foi realizado. Essa mesma característica pode ser observada na atitude do selvagem para com o tabu. Trata-se de uma ordem emitida pela consciência ; qualquer violação dela produz um temível senso de culpa que vem como coisa natural e do qual a origem é desconhecida.” Então cada um, pelo que eu entendo, tem sua prórpia lógica interna para admitir a culpa. Mas a consciência de culpa tem uma justificativa ? – “Tem uma justificativa se levarmos em consideração os pensamentos inconscientes e não os atos intencionais.” Trazendo essas idéias para contemporaneidade, como a consciência de culpa se manisfesta nos pacientes neuróticos ? – “Vê-se que a onipotência de pensamento, a supervalorização dos processos mentais em comparação com a realidade, desempenha um papel irrestrito na vida emocional dos pacientes neuróticos e em tudo que dela se deriva. Se um deles submeter-se ao tratamento psicanalítico, que torna consciente o que nele era inconsciente, será incapaz de acreditar que os pensamentos são livres e constantemente terá medo de expressar desejos malignos, como se sua expressão conduzisse inevitavelmente à sua realização.” Então poderíamos dizer que o desejo se manisfesta na construção do aparelho psíquico? – “Todo e qualquer ato psíquico é a expressão final da realização do desejo.“ A ambivalência parece ser um ato recorrente nos impulsos psíquicos, segundo a leitura que nós fazemos do seu material, o Senhor, até mesmo considerou que “os impulsos dos povos primitivos fossem caracterizados por uma quantidade maior de ambivalência que a que se pode encontrar no homem moderno”. A pergunta se dirige na relação entre ambivalência e consciência de culpa, tanto no tabu como na neurose obsessiva ? “Dessa maneira parece provável que também a consciência tenha surgido, numa base de ambivalência emocional, de relações humanas bastante especifícas, às quais essa ambivalência estava ligada e que surgiu sob as condições que demonstramos se aplicarem ao caso do tabu e da neurose obsessiva, a saber: que um dos sentimentos opostos envolvidos seja inconsciente e mantido sob pressão pela dominação compulsiva do outro. Esta conclusão é apoiada por várias coisas que aprendemos da análise das neuroses.” O Senhor disse a pouco instante que o desejo é representado por qualquer ato psíquico, nesse caso, o sonho é comparado ao pensamento no sentido de que ambos constituem representações? “Fecham-se os olhos e se alucina, abrem-se e se pensa em palavras.” (risos) Os primitivos desenvolveram um sistema, o qual no seu próprio texto denomina de animista, cujo seres espirituais são atribuidos a todos os seres animados e inanimados, e como técnica de controle utilizaram a magia e a feitiçaria. Qual a relação que podemos fazer com o desejo, já que todo ato psíquico é a expressão final da realização de um desejo? Comente também da possível relação com o comportamnto infantil. “Não é de se supor que os homens foram inspirados a criar seu primeiro sistema do universo por pura curiosidade especulativa. A necessidade prática de controlar o mundo que os rodeava deve ter desempenhado seu papel. Assim, não ficamos suspresos em descobrir que, de mãos dadas com o sistema animista, existia um conjunto de instruções a respeito de como obter domínio sobre os homens, os animais e as coisas – ou melhor, sobre os seus espíritos. É fácil perceber os motivos que conduziram os homens a praticar a magia: são os desejos humanos. Tudo o que precisamos admitir é que o homem primitivo tinha uma crença imensa no poder de seus desejos. A razão básica por que o que ele começa a fazer por meios mágicos vem acontecer é, em última análise, simplesmente que o deseja. De início portanto, a ênfase é colocada apenas no seu desejo. As crianças se encontram numa situação psíquica análoga, embora sua eficiência motora não esteja ainda desenvolvida. Já expus em outra oportunidade a hipótese de que, primeiramente, elas satisfazem seu desejo de maneira alucinatória, isto é, criam uma situação satisfatória por meio de excitações centrífugas dos órgãos sensoriais. Um homem adulto primitivo tem à sua disposição um método alternativo. Seus desejos são acompanhados de um impulso motor, a vontade, que está destinado, mais tarde, a alterar toda a face da terra para satisfazer seus desejos.” Menenes, no livro Fábrica de Deuses, realiza uma leitura do seu texto Totem e Tabu e constata, na palavra do autor, o seguinte: “...o totem não possibilita um registro relevante, a nível psíquico, das experiências nas quais a sua presença se verifica. É como se Freud estivesse dizendo que sem o totem, o mesmo conjunto de representações estaria registrado. Em outros termos: ele seria prescindível nas vivências humanas”. Continua a ele a se questionar: “ Em que sentido o tabu teria primazia em relação ao totem, se é que tem? Estaria Freud sendo arbitrário no tratamento dos dois fenômenos culturais?”. Como o senhor aborda essas questões no seu livro para provocar tantos questionamentos? “Ver-se-á que os dois principais temas dos quais o título deste livro se origina – os totens e os tabus – não receberam o mesmo tratamento. A análise dos tabus é apresentado como um esforço seguro e exaustivo para a solução do problema. A investigação sobre o totemismo não faz mais que declarar que ‘isso é o que a pscinálise pode, no momento, oferecer para a elucidação do problema totem’. A diferença está ligada ao fato de que os tabus ainda existem entre nós. Embora expressos sob uma forma negativa e dirigidos a um outro objeto, não diferem, em sua natureza psicológica, do ‘imprativo categórico’ de Kant, que opera de uma maneira compulsiva e rejeita quaisquer motivos conscientes. O totemismo, pelo contrário, é algo estranho aos nossos sentimentos contemporâneos -–uma instrução social-religiosa que foi há muito tempo relegada como realidade e substituída por formas mais novas. Deixou atrás de si apenas levíssimos vestígios nas religiões, maneiras e costumes dos povos civilizados da atualidade. Os progressos sociais e técnicos da história humana afetaram os tabus muito menos que os totens.” Menezes, o autor citado do Fábrica de Deuses, lançou a seguinte pergunta para um grupo de estudantes: O que o desjo individual possue de tão forte para receber um proibição tão severa? Repasso essa pergunta para o Senhor. “Os dois tabus do totemismo com que a moralidade humana teve o seu começo não estão psicologicamente no memso nível. O primeiro deles, a lei que protege o animal totêmico, fundamenta-se inteiramente em motivos emocionais: o pai fora realmente eliminado e, em nenhum sentido real, o ato podia ser desfeito. Mas a Segunda norma, a proibição do incesto, tem também uma poderosa base prática. Os desejos sexuais (individuais, sobretudo) não unem os homens, mas os dividem. Embora os irmãos se tivessem reunindo em grupo para derrotar o pai, todos eram rivais uns dos outros em realação às mulheres. Cada um quereria, como o pai, ter todas as mulheres para si. A nova organização terminaria numa luta de todos contra todos, pois nenhum deles tinha força tão predominante a ponto de ser capaz de assumir o lugar do pai com êxito. Assim, os irmãos não tiveram outra alternativa, se queriam viver juntos – talvez somente depois de terem passado por muitas crises perigosas - , do que instituir lei contra o incesto, pelo qual todos, de igual modo, renunciavam as mulheres que desejavam e que tinham sido o motivo principal para se livrarem do pai. Dessa maneira, salvaram a organização que os tornara fortes – e que pode ter-se baseado em sentimentos e atos homossexuais, originados durante o período da expulsão da horda.” (grifo nosso) Agradeço sua paciência para conosco. Sei que muitas perguntas ainda faltam para ser respondidas e perguntadas. Solicitamos aos leitores desta entrevista que recorram ao livro do estimado entrevistado para possíveis e recorrentes dúvidas. |