Tuesday, December 23, 2008

À Sumaia, que acredita na plenitude da vida

Fiz de você a minha filosofia
Alegria em te ver
Só para ver você sorrir
Dormir ao seu lado
Revelar sua intimidade
Descansar no seu ventre
Desenhar no seu corpo
as minhas fantasias
Minha água de beber,
minha carne de comer
Repetir que te amo
Zelar o seu sono
Correr todos os riscos
Mesmo que este
Seja te perder

Estarei vivo então

Sorrindo ao seu lado
Sentido seu toque
Ouvindo suas músicas
Gozando o prazer do
teu prazer em mim

Vivendo o meu mundo
fazendo do seu o meu mundo
Vivendo o seu mundo...

Cultivamos a vontade de sermos nós
Mesmo estando sós
Não esquecendo do Eu que existe em mim
que faz a ti
E em ti não se esqueça pois faz a mim

Não saiba nunca para que
eu possa sempre repetir: Eu te amo!

15.12.2000

Wednesday, November 05, 2008

A vida lá é um inferno

Matisse. O atirador de Facas. 1947.

Salvador-Ba. novembro de 2008. 7:45 da manhã, paro no semáforo em frente ao Centro de Compras mais conhecido da cidade, um rapaz, entre 23-28 anos, sinaliza se quero limpar a poeira do pará-brisa do carro, digo que não, eu sempre digo que não, falo que estou sem trocado, faço um sinal que estou procurando no cofrinho do carro, e sigo. Às vezes da certo, outras não. Desta vez, deu certo, ele não limpou o pará-brisa e eu fiquei tranqüilo sem obrigação de pagar por este suposto serviço. Logo depois, um rapaz para ao lado da janela, "me presta cinco reais aí...", o tom simpático dele me ocasionou uma resposta simpática, "hoje estou sem dinheiro, amanhã te empresto sem juros". Minha irmã riu e comentou, "tenho pena", são tantas as necessidades. E assim, foi o dia entre uma sinaleira e outra, tentanto me esquivar do pagamento destes serviços. Um outro modo, foi o rapaz vestido de palhaço, se dizendo participar de um projeto de visitas hospitalares à criança, solicitando apoio ao projeto, aparentemente, pessoal. Este palhaço não me fez rir, me pareceu uma forma assim como outra de pedir dinheiro sem se humilhar.
E finalmente, um modo diferente de pedir dinheiro, parei o carro no campus da UFBA, no Canela, ao retornar ao carro, um rapaz fez um sinal para mim, continuei a andar em direção ao carro, pensei que fosse mais um guardador. Ele se aproxima, me conta que saiu do presídio, está com fome, e precisa de algum dinheiro para comer. Perguntei que presídio ele saiu, "...mata escuta...a minha é rôbar...mas agora eu quero pedir", falei "é...eu já trabalhei no presídio de Serrinha..." não sei bem o que queria, certamente tentar me aproximar através de realidade comum, ou tentar intimidá-lo me mostrando conhecer o sistema. Paramos em frente ao carro, pedi licença, entrei, "deixa eu ver se tenho um trocado aqui..", enquanto procurava ele perguntou, "...você era o quê, agente de segurança?". A sua aparência, a sua lingaugem, e aquele olhar sem profundindade revelava que ele realmente passou pela penintenciária. Preferir não responder, e falei - "aquilo lá é um inferno, se você continuar roubando, você vai voltar pra lá" - com a janela semi-aberta, abri a carteira e falei, "tenho não, só tenho cinquento centavos" "...pô veio, aí não dá para eu comer...me arranja estes r$10,00 aí...estou com fome" falou já com tom indignado, poderia estar falando a verdade, já era 12:00 horas. Um silêncio, e de repente foi quebrado com a fala dele "estou com uma faca aqui". Falei para ele - "presídio é um inferno...eu vou te arranjar r$10,00, mas se você me arranjar sua faca", assim como foi todo o dia, acabou de se constituir uma suposta compra. Ele me vendeu a faca, e antes de sair me falou "...me arranja aqueles cinquenta centavos para comprar o cigarro", eu já tinha esquecido desta moeda, mas ele não. Eu dei e falei, "não roube não, a vida lá no presídio é um inferno...". Ele me agradeceu, sair com o carro e olhei pelo retrovisor, ele olhou para os R$10,00, olhou para o carro e eufórico, dando pequenos saltos, falou "...a vida lá é um inferno".

Saturday, January 26, 2008

Cair em Perigo

Se eu pudesse cair em perigo,
fácil que a vida me desse você
nas finas tramas do desejo.

Na ascese do amor
estaria amarrado aos seus cabelos,
finas tramas de sedução.

Deixe agarrar-me na tua alma.
Enredar-me em fantasias,
nas finíssimas tranças da paixão.

Seu corpo nu tinto e sua boca
doce suave fino...
Deixe-me cair em perigo.

Permanente

Educação permanente ou humanização dos processos de trabalho só será possível se compreendermos que não é o trabalho, o estado ou a gestão que se encontra em pauta, mas o sujeito. Não é simplesmente processo de trabalho o tema da mudança, mas o sujeito. Quais são as formas possíveis do sujeito se reconhecer participativo nas atividades do trabalho? Dito de outra forma, quais são os modos do sujeito ser sujeito? Dentro daquela máxima que o homem produz o trabalho, e o trabalho produz o homem. Não devemos pensar o sujeito a partir das instituições, mas pensar as instituições a partir do sujeito. A primeira possibilidade é estática e morta, a segunda dinâmica e criativa. Uma das formas do sujeito se reconhecer na sua própria ação é através da participação direta do seu processo de trabalho. A educação é o meio e o fim para executar tal empreendimento de transformação, surge como prática da liberdade, e relaciona-se com premissa filosófica de que somos sujeitos condenados a escolha. Nem sempre ser livre e fazer escolhas indicam o caminho da felicidade, mas ser livre e poder escolher é a única forma de se realizar enquanto sujeito, mesmo que a liberdade e escolha sejam estímulos de fantasias, como aqueles dias que fechamos olhos e nos sentimos voando com o toque do vento no rosto. Educar-ação é ter o trabalho como forma de aprendizado, consciência de vínculos que atravessam, mas vão além e retornam para o cotidiano do trabalho, é ter a coragem de tirar o trabalhador da condição de obediência. Necessário fazer o trabalhador se reconhecer não como o ser que aprende, mas como o próprio devir-educador de si mesmo, que acumulou um saber da vida, do trabalho, das relações, das amizades. E se fazer devir-educador, é se fazer devir-múltiplo: um devir-criança, devir-idoso, devir-gestor, devir-cidadão, devir-aluno, devir-rebelde, devir-infinito. Exercitar a prática de educador seja permanente, instável, incerto ou translouco, é se colocar na condição de não-educador. É ter cuidado de não se apequenar com disputas incessantes, e se manter sereno com o contraditório. Se fazer um educador-trabalhador é algo que exige tempo, observação e cuidado consigo e com o outro. Permanente é aquilo que dura em nossos corações. Educadores permanentes foram todos os colegas da Diretoria de Gestão da Educação e do Trabalho em Saúde com suas diferenças marcantes no meu processo de aprendizagem. Especial carinho aos amigos: Arlene, Larissa e Tiago.

Cicatrizes

As cicatrizes da infância me fazem lembrar que fui uma criança feliz, as de adulto não serão diferentes. As dificuldades só nos fazem melhores...