A Modernização
Seletiva. Uma reinterpretação do dilema brasileiro. Jessé Souza. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 2000.
Rascunhos de leitura.
O tema central do livro é debater
os pressupostos que o autor considera como a interpretação dominante dos
brasileiros sobre si mesmos. Essa auto-interpretação é denomina pelo autor como
“sociologia da inautenticidade”. O que seria isso? Um Brasil modernizado “para
inglês ver”, uma modernização superficial, epidérmica. A sociologia da
inautenticidade articula com seus temas centrais os conceitos subsequentes de
herança ibérica, personalismo e patrimonialismo.
Quebra das ilusões cognitivas que
invadem as práticas científicas:
Senso-comum: ideias são entidades
externas as práticas sociais, como se fosse independentes as “as coisas lá
fora”.
Jessé parte do pressuposto de que
existe uma íntima imbricação entre ideias, práticas e instituições sociais.
Senso-comum: percepção de que
valores são criações subjetivas, estando à disposição da faculdade de escolha
dos agentes.
Jessé considera que valores são
criações intersubjetivas e impõem-se como uma realidade objetiva a cada um de
nós.
Jessé compreende que “nenhum
desenvolvimento nacional específico logra reunir todas as virtualidades
fundamentais” da cultura ocidental,
nem mesmo a “versão dourada” do excepcionalismo americano. Como procedimento
realizou uma análise de desenvolvimento alternativos (EUA, Alemanha e Brasil),
para ressalta a importância de criticar-se a noção de singularidade cultural
brasileira se situa aquém e além do impacto da modernidade ocidental.
Capítulo 7
O Brasil representa uma variação singular do desenvolvimento específico
ocidental. A interpretação dominante: singularidade cultural brasileira, a
qual parte de uma especificidade predominantemente não-européia no sentido
clássico: ibérica. Jessé conclui que nossa influência seria a de uma Europa
pré-moderna.
Retoma as bases dos pressupostos
de Taylor, naturalismo, esquecimento
peculiar que a atitude natural assumida pelo agente na vida cotidiana envolve.
“o hábito, a convenção, um horizonte de certezas compartilhadas
irrefletidamente comanda nosso comportamento”. Para justificar que a concepção
do Brasil Ibérico está profundamente entranhada não só na autocompreensão
livresca mas também nas instituições e práticas sociais.
Escolhe três autores:
o primeiro deles Sérgio Buarque
de Holanda que tem a concepção de mundo ibérica como um todo sobre o pensamento
social brasileiro.
Raimundo Faoro a versão
institucionalista da concepção ibérica.
Roberto DaMatta a versão culturalista
da concepção ibérica.
O que seria esta concepção
ibérica em Buarque?
A principal crítica de Jessé é
que Buarque é sobre a indefinição ou ausência de conceitos claros com respeito
ao tipo de formação social que se desenvolveu entre os Brasileiros. Buarque
compreender que a Península Ibérica seria assim uma dessas zonas fronteiriças
“menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantém
como patrimônio comum”.
O mote do personalismo, ou
cultura da personalidade, escolhido por Buarque, é o traço mais característico
e decisivo da cultura ibérica entre nós. Termo também ambíguo, mas que Jessé
entende com a institucionalização da cultura da personalidade que impedirá a
solidariedade, formas de organização e de ordenação
horizontais no nosso país. A burguesia lusitana, na concepção de Buarque,
assumiu os valores tradicionais do personalismo aristocrático, o que logrou
torna-se código valorativo da sociedade portuguesa. Personalismo vincula responsabilidade individual e respeito ao
mérito individual enquanto aspectos subordinados à própria personalidade. A
ética personalista é compartilhada igualmente tanto por nobres como por
plebeus.
A ideia central do personalismo,
em Buarque, aponta para uma constelação de interesses e valores que encontram no
próprio indivíduo sua razão de ser e seu norte.
“ainda como decorrência do mesmo
fato temos a ausência da perspectiva dos acordos e compromissos racionais
entre iguais. Em relação a tamanha autarquia
individual os caminhos abertos são os do mando e da obediência irrestrita a
partir de vínculos verticais de hierarquia”.
A nossa singularidade cultural é interpretada por Buarque como possuindo um
vínculo de continuidade direto, baseada na cultura do personalismo de Portugal.(p.163)
O patriarcalismo, especialmente na sua versão patrimonialista,
seria a forma política específica ao personalismo. (p.164)