Sunday, June 02, 2013

A Modernização Seletiva. Uma reinterpretação do dilema brasileiro. Jessé Souza. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.

Rascunhos de leitura. 

O tema central do livro é debater os pressupostos que o autor considera como a interpretação dominante dos brasileiros sobre si mesmos. Essa auto-interpretação é denomina pelo autor como “sociologia da inautenticidade”. O que seria isso? Um Brasil modernizado “para inglês ver”, uma modernização superficial, epidérmica. A sociologia da inautenticidade articula com seus temas centrais os conceitos subsequentes de herança ibérica, personalismo e patrimonialismo.
Quebra das ilusões cognitivas que invadem as práticas científicas:
Senso-comum: ideias são entidades externas as práticas sociais, como se fosse independentes as “as coisas lá fora”.
Jessé parte do pressuposto de que existe uma íntima imbricação entre ideias, práticas e instituições sociais.
Senso-comum: percepção de que valores são criações subjetivas, estando à disposição da faculdade de escolha dos agentes.
Jessé considera que valores são criações intersubjetivas e impõem-se como uma realidade objetiva a cada um de nós.
Jessé compreende que “nenhum desenvolvimento nacional específico logra reunir todas as virtualidades fundamentais” da cultura ocidental, nem mesmo a “versão dourada” do excepcionalismo americano. Como procedimento realizou uma análise de desenvolvimento alternativos (EUA, Alemanha e Brasil), para ressalta a importância de criticar-se a noção de singularidade cultural brasileira se situa aquém e além do impacto da modernidade ocidental.
Capítulo 7
O Brasil representa uma variação singular do desenvolvimento específico ocidental. A interpretação dominante: singularidade cultural brasileira, a qual parte de uma especificidade predominantemente não-européia no sentido clássico: ibérica. Jessé conclui que nossa influência seria a de uma Europa pré-moderna.
Retoma as bases dos pressupostos de Taylor, naturalismo, esquecimento peculiar que a atitude natural assumida pelo agente na vida cotidiana envolve. “o hábito, a convenção, um horizonte de certezas compartilhadas irrefletidamente comanda nosso comportamento”. Para justificar que a concepção do Brasil Ibérico está profundamente entranhada não só na autocompreensão livresca mas também nas instituições e práticas sociais.
Escolhe três autores:
o primeiro deles Sérgio Buarque de Holanda que tem a concepção de mundo ibérica como um todo sobre o pensamento social brasileiro. 
Raimundo Faoro a versão institucionalista da concepção ibérica.
Roberto DaMatta a versão culturalista da concepção ibérica.
O que seria esta concepção ibérica em Buarque?
A principal crítica de Jessé é que Buarque é sobre a indefinição ou ausência de conceitos claros com respeito ao tipo de formação social que se desenvolveu entre os Brasileiros. Buarque compreender que a Península Ibérica seria assim uma dessas zonas fronteiriças “menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantém como patrimônio comum”.
O mote do personalismo, ou cultura da personalidade, escolhido por Buarque, é o traço mais característico e decisivo da cultura ibérica entre nós. Termo também ambíguo, mas que Jessé entende com a institucionalização da cultura da personalidade que impedirá a solidariedade, formas de organização e de ordenação horizontais no nosso país. A burguesia lusitana, na concepção de Buarque, assumiu os valores tradicionais do personalismo aristocrático, o que logrou torna-se código valorativo da sociedade portuguesa. Personalismo vincula responsabilidade individual e respeito ao mérito individual enquanto aspectos subordinados à própria personalidade. A ética personalista é compartilhada igualmente tanto por nobres como por plebeus.
A ideia central do personalismo, em Buarque, aponta para uma constelação de interesses e valores que encontram no próprio indivíduo sua razão de ser e seu norte.
“ainda como decorrência do mesmo fato temos a ausência da perspectiva dos acordos e compromissos racionais entre iguais. Em relação a tamanha autarquia individual os caminhos abertos são os do mando e da obediência irrestrita a partir de vínculos verticais de hierarquia”.
A nossa singularidade cultural é interpretada por Buarque como possuindo um vínculo de continuidade direto, baseada na cultura do personalismo de Portugal.(p.163)
O patriarcalismo, especialmente na sua versão patrimonialista, seria a forma política específica ao personalismo. (p.164)