Thursday, February 19, 2009

A prova da prova

Este texto foi desenvolvido na aula da professora Vera, após lermos um poema. época de faculdade, escritos antigos, páginas amarelas.


A vida é a prova da prova. É ler, decodificar, interpretar e expor idéias a eternas apreciações. Nossas idéias estão o tempo todo sendo vigiadas, todos querem saber seu grau de normalidade. Participar de mundos, entender esses mundos, ou fingir que entendeu, o importante é que as pessoas não saibam que nós não sabemos nada, porque aí nós sabemos demais. Vamos fingir que está tudo bem! Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2 + 2, hum...4! Você é um menino inteligente Joãozinho, já pode participar do nosso grupo. Estou cansado destes rebanhos que ensinam suas limitações e ganham um salário por mês...e vai ser diferente? Não, mas aprendemos suas limitações e provamos que sabemos o que eles estão dizendo. E quem sabe não ensino o que sabe, porque ese sabe que não sabe nada, mas ele não diz, ele não ensina o que sabe, porque isto não pode ser dito, é melhor que todos saibam que ele sabe, e então ele ensina o que querem, mesmo sem saber. Se a rocha falasse, mas ela não fala, porque ela sozinha é grão; e ela precisa fazer parte da montanha. As pessoas jogam com a iggnorância dos outros, e assim o mundo vai. Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2 + 2, ah 4! o GAFANHOTO pula alto e um dia eu pularei também.

Gafanhoto


Desvendar mundos pode trazer alegrias, tristezas ou indiferenças, nem sempre é a expectativa desejada. Um acha lindo o que outro acha um completa estupidez. E quem é o certo! Eu quem não sou! Nem com o que eu digo, nem com o que penso. "A vida é desenhar sem borracha" (Millôr Fernandes). Para quem tem lápis, Millôr, para quem tem lápis! Ih, a minha ponta quebrou, alguém tem apontador? mas o que era mesmo para ser visto, se o gafanhoto pulava alto...há, há, há...see o gafanhoto pulava. Ele pula e eu também, um dia caímos fora, mas normalmente caímos dentro, mas vamos pulando! Pula gafanhoto que o dia precisa passar.

Sexta--Feira 13 - A mudança

Sexta-feira 13


Não poderia ter data melhor para minha mudança de Juazeiro. Data marcada pelas histórias de terror, pensei que só fizesse referência aos últimos acontecimentos da minha vida, mas assim que entrei no carro de mudança, essa data quase tornou-se significativa para as pessoas que ficariam vivas caso viesse a morte na minha direção.

Então, vamos contar a história do início. Passei a semana numa tensão muito grande na tentativa de conseguir um carro de mudança que ficasse com o preço razoável. Depois de muito procurar, tomei a decisão de um amigo vir me buscar, pois tinha um carro utilitário que caberia tudo, quem viria dirigindo seria meu irmão, que achou por bem, não aceitar a proposta, pois o carro não tinha seguro. Achei aquilo uma desculpa, e decidir pegar um ônibus a Salvador e vir dirigindo o carro sozinho para pegar minha mudança, logo depois que avisei aos meus familiares sobre isso, recebo um delicado telefonema de minha irmã dizendo que seria melhor alugar um carro, e vir com o tal do seguro, que todos estavam tão preocupados. Voltei atrás, liguei para o meu amigo, desmarquei a viagem, e pedi para o meu irmão, conseguir o tal do carro alugado, inicialmente seria um carro maior para garantir que toda mudança viesse com segurança.

Sem surpresas, por mais que meu irmão procurasse, não achou o tal do carro, em toda Salvador, ainda insistir que fosse um carro pequeno, e ele insistiu em fazer inúmeras perguntas para ver se o carro dava ou não dava a mudança, por mais que informasse que isso já tinha avaliado. Na minha impaciência fraternal, e por perceber que ele pouco estava se importando com a segurança, mas com o incômodo dele viajar para Juazeiro, desistir desta estratégia e eu próprio resolvi solucionar um carro para mudança.

A primeira opção pagar quase R$1.000,00 para fazer a mudança, a segunda era arriscar num caminhão que fizesse descarga em Juazeiro e eu pagaria em torno de r$350,00 para minha mudança retornar num caminhão para Salvador. E assim foi, às 16:00 horas meu telefone toca, era o intermediário deste caminhão informando que viajaria às 18:00 para Salvador, perguntei se era carro baú, ele disse que sim, fiquei bem empolgado e topei a idéia.

O motorista para o carro baú na minha porta, e assim que coloquei a primeira caixa, vir que a temperatura era bem agradável dentro do baú, considerando o calor insuportável do sertão. Bem, até então só a minha mudança iria chegar um pouco mais resfriada em Salvador, era um caminhão freezer com produtos perecíveis. O motorista não sinalizou nenhum tipo de problema, outro detalhe que me chamou atenção, é que tinha uma pequena carga de alimentos refrigerados junto a minha mudança, ao perguntar se teria algum problema junto à polícia rodoviária, ele falou que não.

Perguntei a Jefferson, um colega que conseguiu o intermediário até chegar no motorista, se eles se conheciam, e Jefferson muito tranquilamente falou, “sem problemas o rapaz é de empresa, eles já se conhecem, olha lá sua farda”. Achei o motorista um pouco “esperto”, cheio de malandragem, comentei com Jefferson pela segunda vez, e ele disse que nada, “você que é um baixinho invocado”. Tudo bem, entrei no carro com uma latinha de cerveja, e o primeiro sinal foi dado, o motorista gritou “ah, você gosta de uma cerveja, vamos parar ali”, eu respondi “não, só estou bebendo está latinha para relaxar, você quer?”. Para o meu agrado, ele rejeitou, e paramos num posto logo à frente, pois ele iria abastecer o caminhão, me chamou para um bar, que saiu três mulheres, duas com uma cara de mulheres arrasadas, e uma terceira toda arrumada, mas mesmo assim, lhe faltava algo de belo, na verdade lhe faltava tudo. Enquanto o caminhão e o motorista se organizavam, fiquei bebendo uma cerveja com as três damas, e percebi que uma delas iria conosco, perguntei e recebi a confirmação.

Inúmeras vezes, passou pela minha cabeça, qual o motivo daquele encontro, por que deveria escutar as histórias de sofrimento daquelas mulheres? E elas preferiram dizer os discursos que lhe davam certo ar moral, como boas herdeiras da cultura cristã, a estratégia era de se penalizarem, mostrarem inúmeras dificuldades e negarem a vida de prostituição, no final do discurso havia implícito uma solicitação financeira de apoio, que se resumiu a pagar uma cerveja a mais por minha conta.

A senhorita que viajou conosco aos poucos cedia este discurso para um mais próximo das suas atuais imagens enquanto pessoa: já foi envolvida em inúmeras brigas, presa por um ano e oito meses por tentativa de homicídio, o que deve ter sido um homicídio. Já vendeu craque em São Paulo, cidade que se envolveu com um traficante morto pelos comparsas. E sem perspectiva iria visitar um namorado na penitenciária de Serrinha que conheceu na sua última estadia na cadeia, num interior próximo a Juazeiro, numa briga de carnaval. Pelo que eu entendi, ele era uma espécie de “xerife” da cadeia, tinha um respeito pelos outros marginais, e ela se encantou e se sensibilizou pela ajuda que ele ofereceu nos dias de prisão. Extremamente sensível a qualquer tipo de apoio, ela se apaixonou por ele, que tinha sido transferido por ter comandado uma rebelião na cadeia. Para finalizar esta introdução, ela estava viajando para Serrinha com uma acusação de roubo da última casa que trabalhou. E o namorado dela, desistam, dificilmente ele saíra da cadeia nos próximos 15 anos.

E assim seguimos viagem, até este momento, mais uma pessoa numa boleia pequena, tudo bem...o saldo positivo era que o motorista não bebia. Conseguimos partir após 40 minutos, e o caminhoneiro já era meu “amigo”, e iria me levar para um posto com uma “ótima rabada", que eu tinha que experimentar, no primeiro posto, logo após a saída da cidade, mas ainda em Juazeiro, ele parou, pediu mais uma cerveja. Neste ponto já desconfiado tinha parado de beber, vi que ele rapidamente tinha colocado coca-cola no copo dele, mas até então não sabia que ele misturava com conhaque, pois sempre dizia “deixa eu beber uma coca com café para ficar acordado”. Neste posto, achei por bem, ligar para alguns amigos, que não atenderam o telefonema, então liguei para Clô, e expliquei a situação a ela, e pedi para anotar a placa do carro por segurança, pois estava com maus indícios nesta viagem. Por sinal a rabada era horrível, eu mastiguei e não engolir.

Já era quase 20:00 e não tinha saído de Juazeiro ainda, liguei para meu irmão, e falei para ele que iria viajar à noite, e iria chegar de madrugada, e ele perguntou “e daí?”, e logo ele que estava tão preocupado com segurança, para fingir que estava tudo bem falei, “não, é só para me ajudar a descarregar o caminhão”.

Depois que saímos de Juazeiro conversamos sobre tudo, desde situações de crime até a vida de caminhoneiro, a minha vida, o sucesso profissional do caminhoneiro, a esperança da senhorita em encontrar um homem que a amasse de verdade. Com tudo isso, ainda tinha as investidas do caminhoneiro em levar a senhorita para casa dele em Salvador, ao invés de deixá-la em Feira de Santana e seguir rumo para Serrinha, a qual ela tinha ficado três dias sem namorar com ninguém para se dedicar ao seu amor na prisão, e o infeliz do caminhoneiro queria num sentimento de “comer” uma virgem, quebrar esta intenção sincera e sentimental da garota.

E assim foi, paramos em quatro ou cinco bregas ou bares, em todos o motorista bebia coca-cola com conhaque, e quando percebeu que eu estava me aborrecendo, falou para não me preocupar que ele conhecia o limite dele. A última parada, foi num bar que era ponto de tráfico, assim que descemos não tinha ninguém no bar, depois que paramos e pedimos um coca-cola apareceram mais de oito homens dentro e fora do bar, e o motorista foi intimado se estava acontecendo algum problema, assim que percebi o “barril de pólvora” que nos encontrávamos puxei o motorista, entramos no carro e seguimos viagem. E ele disse que sabia que ali era ponto de venda de drogas, mas estava tudo sobre controle, isso era logo depois de Capim Grosso, e a fala do motorista já estava embolada.

Eu não conseguia pregar o olho, porque a sensação de dormir era terrível, pensava que iria acontecer um acidente e eu iria morrer dormindo. Com tudo isso, o motorista ainda fumava no carro, e toda vez que precisava acender soltava as duas mãos do volante e o carro sai da pista ou pegava a outra pista, mas como vocês sabem não deveria me preocupar “pois estava tudo sob controle”, obviamente de Deus ou do Diabo.

Paramos para socorrer um outro caminhão quebrado, e nisso o motorista foi muito bacana, pois ele era também com "muito orgulho mecânico de carro a diesel".

E assim foi a viagem inteira, e quando não agüentava mais ficar acordado, tirei alguns cochilos que acordava completamente assustado quando caia na escuridão do sono e na perda dos sentidos com a realidade, uma experiência terrível. E tendo que ouvir e aceitar pelo menos enquanto estava no carro, que iria visitar o motorista para fazermos uma festa no fundo de quintal.

Era 4:00 da manhã quando chegamos em segurança, a garota foi arrastada para Salvador, e certamente iria dormir com o motorista. Eu só conseguia falar uma coisa para todo mundo, "parei em todos os bregas de Juazeiro a Salvador", repetia isso, sem pensar. Descarreguei o carro, e fui dormir às 05h da manhã com quase 24 horas acordado.
Conclusão: As sextas-feiras 13 existem.

Tuesday, February 17, 2009

escritos

Antigos escritos: uma das aberturas de um caderno que pode ser muito bem aceita como uma proposta deste blog, os tempos mudam e mudam as tecnologias de acesso a memória.

"Escreverei frequentemente minhas idéias e achados e percepção do mundo. Mundo é tudo aquilo que não sou eu. Falarei até mesmo de coisas banais ou que me parecem banais, mas quem sabe poderão ajudar a me compreender, seja num momento ou comportamento estabelecido. Tempos em tempos farei, até mesmo, perguntas com ou sem respostas. As perguntas são mais importantes que as afirmações. Aqui, tentarei exercer toda liberdade de pensamento, apesar de saber o quanto isso é difícil e perigoso. Nem sempre é bom grafar o que pensamos, pois nos expomos, caso alguém pegue para ler ou mesmo podemos fortalecer um comportamento indesejado. Colocarei todos os meus objetivos neste papel, reavaliarei e poderei tomar novos rumos depois de refliti-los"

Nem sempre isso que escrevi num caderno de notas foi possível, mas vale o registro.

Crítica de Platão a escritura

Estou agora no momento de resgastar meus antigos cadernos de notas, e suas páginas estão "amarelando", vou guardar algumas coisas que acho importante.

Crítica de Platão a escritura:

1. a escritura não é remédio da memória e não substitui a função da memória;
2. a escritura é um meio para evocar a memória;
3. ativar a consciência que já está predisposta a ser ativida;
4. a fala é mais dinâmica e viva do que a escritura;

Sunday, February 08, 2009

Mudança




Mudanças, mudanças, arruma, empurra, enrola., fecha, passa a fita...casa vazia! Esta vida boa vai acabar! Para equipe de plantão uma feijoada no quintal.

Saturday, February 07, 2009

Nova gramática amorosa

Dizem elas que querem me ajudar! Valeu, pelo menos me animaram bastante, estas duas figuras! (escrito em 07.02.2009 publicado dez/2010)




Friday, February 06, 2009

Novas regras da gramática amorosa

Dizem elas que querem me ajudar...(?) Valeu minha mãe e minha tia, pelo menos me animaram bastante, estas duas figuras!






Thursday, February 05, 2009

Passarinho branco.


Tô com uma saudade...não posso ver um olho, um bico que me bate saudade, tudo, tudo, tudo...meu irmão reclamando aqui da cama, eu me lembrando que vc dormia tão bem ao meu lado.

Monday, February 02, 2009

As núpcias puer-psique


Sinto que este será o último estudo, por enquanto. A partir de agora, preciso ter uma outra forma de auto-conhecimento. Já imaginava isso, meus sentidos já apreendem o mundo externo da forma que me era habitual, o mundo parou de andar em câmera lenta, até que gostava desta sensação, o que não gostava muito era dos sentimentos.
O livro e autor continuam sendo o mesmo. Neste tópico será abordado a conciliação entre o espírito ascencional, de um lado, e a ninfa, o vale, ou a alma, de outro. Imaginemos este enlace em estilo personificado, como em outros momentos, isso ajuda a imaginação a sentir diferentes necessidades dentro de nós como volições de diferentes pessoas (os vários eus de novo, aparecem).

O mais importante sobre a anima é o que sempre se disse da psique: é insondável, inapreensível. Jung denomina de "arquétipo da vida", ao tempo que Hillman escreve como uma função da psique (então teria outras funções, anima não se confunde com psique!?) que constitui sua verdadeira vida, a embrulhada na qual está metida hoje, seu descontentamento, suas desonestidades, e eletrizantes ilusões, junto com suas reabilitadas esperanças de uma realização melhor (isso está tratando da relação anima/psique). A anima nos embrulha e retorce e comprime a ponto de ruptura, realizando a "função de relacionamento". Deixa claro que para Jung relacionamento significa perplexidade.


A consciência do puer necessita casar-se com a mixórdia da psique, a fim de empreender a "luta dos sexos". O puer precisa combater a irritabilidade desta "mulher" interior, sua indiferente preguiça, seus caprichos - a análise chama de auto-erotismo. Trata-se de luta com a alma, ao invés de contra, um abraço apertado, tenso, afetuoso, em muitas posições de cópula sexual, um abraço em que a loucura do puer defronta-se com a confusão e os desvios da psique. Não é uma luta franca nem clara. Nem mesmo sei que armas usar ou onde o inimigo se encontra, pois o inimigo parece ser minha própria alma e coração, e minhas mais queridas paixões. O puer é deixado sozinho com sua doidice e durante o combate recorre a ela (a doidice) tão frequentemente que aprende a dela cuidar como preciosidade, como aquilo de impar que ele realmente é, sua sigularidade e limitação. O refletir-se no espelho da alma permite ao homem ver a demência de seu impulso espiritural, e a importância desta demência. (isso é muito curioso para mim, gosto de dar relevância espiritual a certas situações, que depois afastados me parecem sem importância). (Eu reclamava muito por que ela não me refletia, pura mentira, ela apenas não refletia aquilo que eu queria ver, e eu criticava como se não refletisse, e os piores dos reflexos para o puer é o silêncio, no qual não dá para acionar sua loucura, ou mesmo seu espírito defesa, se debate entre espelhos olhando para si mesmo nos olhos da alma, que reflete sua demência).

E aqui vem um ponto importante, o da terapia, foi onde me fez perceber que era o fim das leituras. Toda a luta com a alma resume-se nisso (dito acima), sendo a psicoterapia a ocasião desta luta: descobrir sua loucura, seu espríto singular, perceber a relação entre o seu espírito e sua loucura, constatar que há espírito em sua loucura, e loucura em seu espírito. A partir daqui eu extrapolo a personificação, e me confunde muito, por isso prefiro parar.

Sunday, February 01, 2009

Fogueira dos temores.


Certos afastamentos, separações são necessárias a emoção do ódio. Para acontecer de forma enfática, mas nada pessoal, se faz necessário para marcar a diferença, manter as coisas nos seus lugares. E por isso eu disse "neste momento não dá para esquecer o peso dado as pessoas", é preciso encontrar energia onde ela se encontra para se proteger, porque de alguma forma a minha presença incomodou muitas psiques nas suas "estabilidades" e elas agiram da mesma forma para me manter distante. Bem e mal andam juntos, um olhando para cara do outro, não se queima um sem chamuscar o outro, e nunca sabemos quais dos dois foram para fogueira, até que reste apenas as cinzas.

Estudos da Alma pelo Espírito.

Este texto precisou vir, porque desenvolve os conceitos como cascata, e fala bem diretamente do PUER no processo de amadurecimento e suas consequências que podem levar a morte literal (aconteceram situações conscientes ou inconscientes que merecem muita atenção da minha parte, outro ponto relevante do texto, a necessidade de introversão para o amadureciemento, e como é duro para mim este processo de introversão, a criança dentro de mim, quer sair pulando, bater a cabeça na parede, fazer calundu, e hoje me deu vontade de sair com o filho de Tartaruga, Gabriel, percebi que era um pedido interno, e dei outra direção).
Carlos São Paulo tem uma abordagem diferente da de Hillman, sutilmente se percebe pela linguagem, como diria Hillman pelo estilo de imagens. Linguagem clara, direta e utiliza de conceitos que a trata a situação de forma diferente, é esclarecedor para ler junto com Hillman, principalmente para os iniciantes, como eu.

texto retirado do site: http://www.ijba.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=88:puer-senex-na-psicologia-masculina-&catid=38:6-edicao&Itemid=61

PUER-SENEX NA PSICOLOGIA MASCULINA
Carlos São Paulo.
PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO. Ele chamou assim ao processo natural, espontâneo e autônomo, completamente independente de nossa vontade consciente, que acontece com todos nós, desde que nos permitamos à transformação natural dos processos de desenvolvimento, crescimento e morte. Nesse caminho, o Ego deve tornar-se flexível o suficiente para libertar-se dos seus paradigmas e ficar aberto ao fluxo criativo do inconsciente, a fim de que este se realize. Dessa forma poderemos contemplar as novas idéias e possibilidades que emergem do lado obscuro de nossa mente.
O Ego, considerado por Jung como o regente da consciência, tem um papel fundamental para definir os níveis de maturidade de um indivíduo. Por meio do diálogo com o inconsciente, intermediado pelas imagens simbólicas, vai-se atravessando camada por camada deste nosso substrato psíquico, encontrando representações cada vez mais sutis, menos pessoais, até chegarmos à essência, à primeira camada – o Self, arquétipo da totalidade, do equilíbrio e da unidade, que corresponde ao nosso centro conectado com todo o cosmo. Seguir o caminho da individuação necessita de um Ego que estabeleça uma boa relação com o Self, e esta poderá ser projetada em uma comunicação satisfatória do homem com o seu deus. O conteúdo do inconsciente, para ser uma realidade na percepção do Ego, precisa tornar-se imagem. Essa imagem traduz uma experiência humana eterna na espécie e ganha a forma de Símbolo Arquetípico. Este guarda um padrão e, ao mesmo tempo, expressa a sua singularidade por meio da imagem. É como os nossos dedos, ou seja, os humanos nascem com dedos(esse é o padrão), mas estes são sulcados por impressões digitais(essa é a imagem) bem singulares, de modo a não se encontrar dois indivíduos iguais.
Para considerarmos o processo de individuação nos seres humanos do gênero masculino, vamos refletir sobre o par de opostos puer-senex. Puer é a fixação na infância, enquanto senex refere-se à fixação na velhice. Não poderíamos deixar de nos referirmos aqui à relação puer-senex com a temporalidade. Para o Hinduísmo o mundo é uma ilusão, e o tempo um fator que nos engana ao ponto de acreditarmos apenas no ego e nas coisas palpáveis. Por isso, nos iludimos com a irreversibilidade do tempo e, não percebemos a circularidade dele muito bem representada em mitos antigos. Assim, no ego, o tempo se comporta se desdobrando apenas em uma única direção, sem nos darmos conta da reedição de eventos passados, propiciando a separação cronológica clara da condição puer e senex. No entanto, na estrutura psíquica do inconsciente, vivemos o tempo da circularidade, consequentemente, a história será sempre a reedição de algum evento do passado. É o eterno retorno, sem início nem fim. Nesse caso último, as dimensões puer e senex serão vividas perpetuamente retornando sobre si mesmo sem o antes e o depois.
Percebemos que o sujeito, no caminho da individuação, precisa rever os ciclos de sua alma. O homem precisa estabelecer relações com o seu centro - ou com Deus - e então enfrentar o desafio de saber lidar com a sua alma - ou anima - como chamou Jung. Para isso, precisamos aceitar o fechamento dos nossos ciclos de tempo. É preciso morrer para o antigo, e renascer para o novo, em um contínuo processo criativo (o antigo para mim, é tudo que ficou em Juazeiro, e este é meu tempo de olhar para ele). Quando aceitamos a mudança, conseguimos abandonar o passado de forma criativa, porque dele emergem novas possibilidades de atuação no futuro. Fechamos portas para que possamos renascer.
O homem tomado por cronos, pelo senex devorador e tirano, amedrontado com o tempo, se arma de mecanismos que o faz isolar-se da alma e deixá-la com dificuldades para expressar-se. Deus, em sua insistência, faz com que ele sinta a necessidade desse contato por meio de uma linguagem que o homem moderno tem mais dificuldade em entender. A linguagem dos símbolos que une os opostos passa a ser substituída pelo seu contraponto que é o diábolos, ou seja, o contrário do símbolo, aquilo que desune. Assim, o diabo faz o seu papel de alquimista junto com Deus.
Ao experimentarmos uma relação significativa com o outro, mobilizamos as figuras interiores que habitam adormecidas o mundo misterioso da psique humana. Essas figuras aspiram a existir e agir. Ao acontecer esse fenômeno, assistiremos ao papel dos símbolos em nossa transformaçào. Tornar-se-á símbolo, a imagem que permita a relação do Ego com os conteúdos do inconsciente.
O homem ao amadurecer, encontra dentro de si mesmo o seu aspecto Puer. Porém, se o Ego não consegue manter essa experiência por meio da atitude da consciência introvertida, o mundo lá fora lhe pregará peças e, ai aparecerão as relações assimétricas e, consequentemente, perderá todo o encanto cedendo lugar às crises. Essas crises poderão levar o sujeito a melhorar a qualidade de sua vida, ou sucumbir na loucura, ou mesmo na morte literal. Para exemplificar essas três possibilidades vejamos as histórias a seguir:No filme “D. Juan De Marco” o personagem vivido por Marlon Brando se apresenta como um psicólogo às vésperas da sua aposentadoria, sendo designado para salvar um jovem suicida que se identifica como D. Juan. No topo de um guindaste, o psicólogo trava um diálogo de identificação com os delírios de D. Juan e este desiste do suicídio. Daí em diante D. Juan passa a ser um objeto de transformação daquele homem que agora ativa o Puer esquecido nas regiões mais abissais do seu mundo desconhecido. Aquele homem, pesado, sem mais os encantos da vida, psicólogo maduro, com a missão de resolver o problema do jovem D. Juan, tornando-se leve, sedutor, vivendo a beleza interior. Essa mobilização no seu mundo interior o faz viver a alegria de um Puer que dança com a sua amada, desfazendo o feitiço do tempo que lhe havia retirado todo o encantamento.O confronto do Puer, que quer olhar para fora, com o Senex, querendo olhar para dentro, gera então o campo de batalha na psique, muitas vezes se equilibrando nas próprias ilusões em que as Dulcinéias e os Tadzios podem surgir por todos os lados, dificultando uma melhor relação com o seu centro. Aqui eu lembro as histórias “D. Quixote de La Mancha” e o romance “Morte em Veneza”.
Na conhecida história de Cervantes, D. Quixote, um homem maduro, vive toda a dimensão de sua fantasia projetada no mundo externo, transformando qualquer objeto em espelho de sua alma e, assim, vive o herói lutando e vencendo batalhas que nada mais são que Moinhos de Vento, em busca de sua amada Dulcinéia, imagem de anima com poderes de trazer a graça a partir de qualquer tipo de senhora que esteja ao alcance dos seus sentidos iludidos por essa força. Seu auxiliar, o Sancho Pança, como sua função inferior, o mantém em sua tarefa de iludir-se e viver a unidade do sujeito com o objeto (Participation Mystique).
No famoso romance de Thomas Mann, Morte em Veneza, o maduro Aschenbach não consegue vencer o confronto com o púbere Tadzio que espelha o Puer que habita o mundo interior daquele homem maduro dando-lhe forças descomunais, sendo possível devorar o Senex, ou seja, o confronto Puer e Senex resulta na morte, símbolo do fechamento de um ciclo. Aschenbach ao perceber Tadzio no saguão do hotel, logo em sua chegada, torna-se obcecado pelo moço, mas qualquer ação concreta é, para ele, totalmente inimaginável. A partir daí, tenta o artifício externo de fazer contato com a sua jovialidade, utilizando-se de um barbeiro que pinta os seus cabelos brancos, para no final, numa cena triste: um homem morrendo e perdendo de vista o objeto que ativou toda a fúria dessa organização emocional que traduzia a juventude perdida.
Assim, podemos ver nos três exemplos, como aconteceram as relações puer-senex na psique masculina. Na história de D. Juan o homem com sua alma madura experimenta a força da ativação de sua alma jovem, obtendo a sua transformação. Na história de D. Quixote a razão é perdida para que haja a experiência interior transformando a camponesa em uma poderosa anima para um admirado herói, como muitos homens maduros que perdem sua estrutura de família e se lançam na busca desenfreada de um mundo fantasioso e inexistente para as dimensões práticas da existência. (e a minha crise ocorre aos 30 anos, numa luta imensa para se constituir uma família, e com uma personalidade introvertida ao meu lado, bem significativos estes fatos) No romance de Thomas Mann, o esforço entre a ética e as necessidades impróprias resultantes do confronto puer-senex, põe fim a uma questão insolúvel, ou seja, não foi possível a harmonia entre esses opostos e a solução foi a dissolução.
Na verdade, sustentar a tensão entre os opostos deus-diabo, puer-senex, cronos-aion, rítmo-repouso, criação-destruição, etc., é uma jornada épica para transcender o caos e a ordem, depois de percebê-los indissociáveis. Ou seja, que um não surge sem o outro, assim como a felicidade não existe sem a infelicidade. Essa é a condição de nos libertarmos da necessidade de saber o que é certo e o que é errado e a aceitar que ambos são verdadeiros. A magia consiste em optar por todos eles.

"esse anima", "estar na alma"

Esse anima, será os estudos da alma de hoje (Hillman "O livro do Puer"). A psicologia de Jung se baseia na alma. A ressurreição de imagens por Jung foi um retorno à alma, por aí já temos uma indicação do método a ser empregado no processo junguiano. Logo a imagem não é representação de algo mais. Dar a imaginação significados interpretativos é pensar alegoricamente e desponteciar o poder da imaginação. Esta posição Jung descobriu junto aos seus paciente insanos e em si mesmo durante seus anos de depressão. Se você está a procura da sua alma, busque antes as imagens de sua fantasia, pois é assim que a psique se apresenta diretamente. Imagem não é utilizado para referir-se ao reflexo de um objeto ou uma percepção, não se refere a uma memória ou uma pós-imagem. A palavra deriva de "uso poético, uma figura de imaginação ou uma imagem de fantasia". Estes não provém da "realidade" (sempre entre aspas). "A psique cria realidade diretamente. A única palavra com que posso designar esta atividade é fantasia".

Hillman diferencia as imagens de Pico e Vale. É importante ressaltar que tudo para psicologia junguiana é antecedida pela imagem, se reconhece o espírito ou a alma pelos seus estilos de imagens. Dar definições de espírito e alma propõe a distinção e o problema em linguagem do espírito.

Outro ponto que me chama atenção e afirma minha identificação com a psicologia da alma. O espírito é humilde, mas sem humor. Fantasia é qualidade maravilhosa da vida diária...o estilo literário de Jung no qual nenhum parágrafo continua o precedente (é preciso ler Jung com a alma, isso consigo fazer bem). A psicanálise se aproxima deste ponto na associações livres.

A alma nos envolve em história - a história de nosso caso individual, a história de nossa terapia, a história de nossa cultura. Hoje passei pela manhã e vi um grupo de homens reunidos na praça contando seus feitos, lembrando suas histórias que quando um dia 14 anos o outro dia 20, era alma centrada, reunida na praça e se fazendo. Eu precisava contar minha história para um passarinho branco, muito mais do que um perspectiva, era minha alma falando. Em outro momento do livro, sinaliza que muitas vezes o caminho do puer para alma, é a ilusória paixão, e aí se dá mal, normalmente. Eu deveria saber disso antes, pois já tinha identificado a constelação arquetípica. Mesmo que soubesse, estava mergulhado no complexo.

Os picos aniquilam a história. Os trabalhadores espirituais e os pesquisadores do espírito devem primeiramente saltar sobre as ruínas da história, ou profetizar seu término, ou sua irrealidade, seu tempo ilusório, ilusória a história de suas localidades individuais e particulares.

Nossos complexos são histórias atuantes na alma, precisamos então contá-las. Aqui seria a saída, passei o tempo todo calado com muitos. A autotransformação no vale exige o reconhecimento da história, uma arqueologia da alma, uma escavação das ruinas, uma remontagem (esse ponto é muito, muito importante). é preciso, apesar de ser mais difícil, cinzelar a história, nossas reações, hábitos, moralidades, opiniões, sintomas que impedem a autêntica mudança psíquica. (eu acho que fui bastante corajoso ao me jogar do penhasco e começar este processo, esculpir minha mudança).

O problema do que é trivial e do que é relevante depende do arquétipo que lhes empreta signficado, no caso o SELF. Contudo, podemos nos sentir oprimidos pela significação deslocada, inferior, da paranóia, como podemos sentir oprimidos por eros e pela alma nas agonias do amor desesperado, ridículo.

A desproporção entre o conteúdo trivial de um evento sincronístico, de um lado, e de outro, o enorme senso de significado que o acompanha, mostra a afirmação de Hillman, no que se refere que o significado é dado no trivial, tanto faz a fala espiritual profética, ou uso de psicotrópicos, ou relatos terapêuticos, entendo o que ele quer dizer com isso, para prestar atenção no arquétipo constelado e não nos fatos. A semelhança de alguém que econtrou um amor, processo de autovalidação, autojustificação das trivialidades que pertencem à experiência do arquétipo em todo complexo e que participam da sua defesa.

A paranóia é uma desordem do significado, por um arquétipo indiferenciado do self. Esta questáo dá indeferenciação é muito importante para psicologia, e Jung marca bastante isso, nas indiferenciações dos arquétipos.

Nas páginas seguintes fala de como agir no processos terapeutico, que pergunta deve ser feita para encontrar o arquétipo, "quem chama lá de cima?". A indagação arquetípica não é como ocorre o conflito entre alma e espírito, nem por quê, mas quem, dentre a variedade de figuras que compõe cada um de nós, que figura ou pessoa arquetípica se move neste acontecimento? (nisso é curioso, que quando reconheço isso, falo que dentro de mim, e de todos, existem vários "eus", as pessoas me rotulam, se defedem e voltam correndo para sua sanidade egóica). Outro fato curioso que precisa ser registrado, Hillman considera o "soldado cristão", enquanto figura arquetípica uma das mais perigosas socialmente, o inconsciente bom cristão, o missionário, o salvador, o cavaleiro.

Inicia o próximo estudo. psicológica e até espiritualmente, o problema consiste em encontrar conexões entre o impulso do puer para o alto e o abraço da alma, nebuloso, estorvante.