Sunday, June 25, 2006

Carnaval 2005 - Texto 0

Carnaval “já é”. A grande sensação desde verão começa com o nome Afro. Para os amadores da música baiana, sabe que estou me referindo à banda do verão Afrodisíaco. Segundo comentam trata-se da “nova sensação da cena artística baiana”. No mínimo é uma banda interessante... só o nome que é um pouco brega, parece aquelas loções de catuaba. Senão, homenageiam a etimologia grega do adjetivo aphrodisios (nascido da espuma, nascido do mar). Deusa grega Afrodite, deusa do amor, nasceu das espumas das águas do mar. Com a dominação romana passou a ser tratada como Vênus, que lembra uma banda de rock, que lembra que não podemos esquecer no carnaval de encamisar o bilu-bilu. Pelo menos uma utilidade pública esta “nova sensação” remete, para poucos, é claro! Para muitos é apenas um estimulante sexual, pouco importa Vênus, se é deusa do amor, nome dado a um saco protetor de viroses, e inspiração para uma banda de rock.
Ou será que eles colocaram pensando nas referências “afro”, já que é uma banda afro-pop. Entenderam a piada, afrodisíaco; é assim mesmo, não era para rir. A banda é no mínimo interessante, pois além desta festa etimológica que nos lembra das nossas raízes arquetípicas, passando pelo rock e chegando ao carnaval lasci-erótico-baiano, os dois cantores principais da banda, também, possuem nomes curiosos. Um nome é francês, Pierri, associado ao sobrenome mais importante da história do mundo bilionário, Onássis. Nome que ficou conhecido com Jaqueline Kennedy Onássis, que após sua trajetória de grande dama americana casou-se com o bilionário Aristóteles Onássis; ora, novamente voltamos à Grécia. Este mundo é deveras cíclico. O outro cantor, não menos curioso, parece um nome indígena de raízes tupi, Jauperi, não conseguir nenhum estudo onomástico, mas dizem que os íntimos chamam nosso renomado cantor de “Jaú”, bem que poderia ser Chau (derivação interiorana de tchau [origem italiana, ciao - até logo, até à vista]). Partir para alhures, além do mar, voltar de onde nasceu das espumas do mediterrâneo e por lá ficar. Mas não, a Bahia não é assim, terra mãe de pernas abertas, de índios que viram nos portugueses deuses, tudo acaba no dendê. Pega tudo, meniniiiiiinho, joga na fritura, mete a pimenta e teremos a miscigenação global baiana: afro-gregos-romanos-italianos-franceses-índios-americanos e baianos, tudo inteiro em uma só banda. Aja camisinha. Este carnaval estou vendo que “já é” demais para minha cabeça.

Carnaval 2005 - II

Ontem eu fui para o carnaval, e como estava um pouco inseguro resolvi sair de bota que parecia um coturno. Ficamos quase uma hora tentando estacionar um carro que tinha 6 pessoas, digo de passagem que era um carro popular, logo tinha alguém em cima da marcha. Decidimos, enfim, pagar R$ 10,00 por um estacionamento, que depois de uma hora com o carro na primeira marcha e o colega em cima...da marcha... foi até barato. Surgiram aqueles comentários: “porque não fizemos isso antes”. Antes de entrar na via de fato do carnaval já tínhamos perdido uma parte do grupo. Descemos a Barra pelo Morro do Gato do lado direito, e nos deparamos com uma cachoeira que tem sua nascente no barro vermelho nesta época do ano. Cachoeira é exagero, mas é uma mistura de barro com urina masculina, graças a deus que estava de coturno. Estava animado, comprei uma cerveja, dancei com a vendedora (com esta mania de ser do povo) que me dava barrufadas de um cigarro barato, eu acho que era Derby. Estava passando o Rapazzola, uma colega fez um comentário que era muito bom, que ele tinha uma voz para o axé e animava bastante. Realmente o cara é bom nisso, eu só não ouvir ele cantando uma música inteira, ora ele “animava” (conversava) com a multidão, ora chorava, dizendo que teve um sonho realizado. Contudo, ganhei à noite quando ele no epicentro do Circuito Dordor, bem em frente do camarote da Skol, ele perguntou: cadê a galera de Pernambués? E no meio daquela multidão só duas vozes se alteraram, a minha e a do meu irmão, para mim foi fantástico, fiquei até emocionado.
Eu estava até me saindo bem diante das confusões, eu fiquei atrás daqueles bancos de observação da PM, não vi briga nenhuma quando estava parado. Então, resolvi sair, e tive sorte, quando eu passava, logo depois tinha briga, ou seja, por questões de segundos não era coadjuvante da briga. Eu não vi briga nenhuma, mas sabia que alguma coisa acontecia, até porque passava um monte de gente amarrado no cassetete (eu pensava que esta palavra era com dois “c”). O mais triste foi ver um rapaz 1,75m, com o braço da espessura de um sofá ser espancado por quatro rapazolas (digo de passagem que eram brancos e fortes) até a inconsciência e sua cabeça sendo pisoteada no chão da Barra, antes da polícia chegar saíram correndo vitoriosos, com as madeixas loiras sumindo na multidão. Eu, maluco, fiquei tão indignado que num gesto reflexo, quando a polícia chegou, eu fiquei apontado para o lado que os caras correram, falando para os policiais perseguirem. Eu já estava indo embora, eram 5 horas da manhã, mas depois desta o carnaval acabou este ano para mim. Para me consolar da imagem fiquei imaginando que aquele rapaz tinha feito algo de muito ruim para despertar o ódio de quatro pessoas.
Contudo, fiquei animado também, olhando para cima dos trios, apreciando alguns siliconizados, e admirando os micro-shorts jeans que impedem que as mulheres respirem, mas como você sabe é estímulo contínuo, e logo perde a graça. Fiquei na dúvida, em certo momento, se ficaria bêbado ou não, para suportar o restante das horas, resolvi não procurar este caminho da felicidade, porque meu irmão estava bebendo, e caso precisassem estaria pronto para dirigir. O melhor momento foi quando passou o trio de Carlinhos Brown, o trio sem cordas, bonito, sair acompanhando o trio por um percurso imenso de 200 metros, do clube espanhol até o camarote da Skol, e aí você já sabe, ele ficou colocando músicas de propaganda da Skol, e além do mais o som estava absurdamente alto.
Mas carnaval é isso aí, aiai! Termino com uma frase de amiga: “Não se anime a ir fazer o carnaval nas ruas de Salvador! Não se atormente porque os outros vão e acham fantástico, cada um tem o que merece ou que procura, ou melhor, escolhe!!!”
Um beijo no seu coração, “coração”, isso me lembra alguém.

P.S.: estou admirado com as reportagens do jornal A Tarde, mesmo escrevendo algumas vezes sobre codinome (Columbina Tresloucada) , estão expondo a “ira” do carnaval, junto com a “luxuria” e a “vaidade” e a comercialização do carnaval baiano.

Victor

Carnaval 2005 - I

Estou a três dias tentando me animar por carnaval e não consigo. Quarta-feira fui pela manhã para Festa de Yemanjá _ “Yemanjá, rainha do mar, minha sereia, me proteja de todo mal...Yemanjá, rainha do mar, minha sereia me proteja do carnaval”_. Bem! O final do canto não é bem este, mas poderia ser. O sol a pino na cabeça de 32º graus, passei à tarde de quarta com o corpo mole e dor de cabeça. Fiquei imaginando por que não estou me divertindo junto com quase dois milhões de turistas, pessoas que estão na folia, na alegria, soltado suas energias reservadas, soltado suas repressões, tristezas e alegrias de 2004. Talvez, apenas talvez, eu não estivesse suficientemente reprimido. Eu preciso ser mais contido, me reprimir mais, falar menos, ser menos crítico, engolir mais sapos, não dar respostas à toa, eu preciso desta repressão para pular no carnaval ou pular o carnaval. Ou, ter mais alegrias, mas motivos para comemorações, será que é isso?
Resolvi ficar quinta-feira em casa assistindo a programação de carnaval, era uma tática de me sentir reprimido, em alguma hora surgiria aquela vontade de ir à rua. Os foliões na quinta-feira até que estavam bem alegres. Na sexta-feira me deu até uma pontinha de vontade, mas achei que não era suficiente, era necessário mais repressão. Fiquei de novo assistindo a programação, os foliões ainda estavam muito alegres, achei que era reprise, pareciam às mesmas pessoas, os repórteres diziam as mesmas coisas. Não era reprise, era sexta-feira, dia do Expresso 2222, tinha certeza que quando eu ouvisse o Trio iria ficar enlouquecido, mas não foi o que eu esperava. Um ministro roco, uma filha de ministro sem voz, um trio muito alto, uma banda desafinada. Eu ficava passeando entre a TV Bahia e a Bandeirantes. Astrid esbanjando ignorância da cultura baiana, e convidou Carla Perez para comentar. Umas reportagens ao vivo sem sincronia, repetindo o tempo todo a chamada do canal, falando frases criativas como diga aiai, folia, alegria, energia, enguia...
Todos os repórteres com a cara de exausto, suados, rocos, vazios, faziam entrevistas com os artistas que diziam absolutamente nada, diante de perguntas que duvidam de nada. Kátia Guzo perguntou a Rogério Flausino (para quem não conhece aquele da banda Jota Quest): _Você sabia que estamos comemorando 20 anos de música axé no carvanal!?. Ele respondeu: _ é! Existe (sic) muitas controvérsias, mas o mundo é feito de contradições, e o povo da Bahia é muito bonito. Ele aprendeu rápido esta energia barroca da Bahia. Pra finalizar o dia, ouvir o Guig Gueto rodando o gado, digo, os foliões para frente do trio com uma música: “todo mundo para frente, todo mundo para frente, todo mundo para frente, eu pedi todo mundo para frente”. E as pessoas iam se deslocando para frente do trio, saltitando, pulando, balançando o derrière. E quando todo mundo chegou na frente, ele cantou para todo mundo voltar para trás, vá entender alegria baiana. A única coisa compreensível é as pessoas ficarem bêbadas no carnaval. Eu fiquei muito reprimido, mas foi para ficar em casa.
A TV educativa seria minha salvação? A TVE estava realizando um memorial do carnaval desde o início do século XX. Estavam apresentando na sexta-feira um antropólogo, Antônio Godi; um historiador, Jaime Sodré; a Diretora do Projeto Pelourinho Dia e Noite (que estava programado para acabar), Tânia de quê mesmo? E um produtor cultural do pelourinho. Excluindo a representante do governo e a repórter todos eram negros, a figura do intelectual negro ficou pop depois de Milton Santos. A discussão era sobre a revitalização do carnaval no pelourinho e dos blocos afros, chegaram à conclusão que o carnaval da Bahia era enlatado para turistas, e que os blocos afros não se insurgem como na década de 70. Falta a estes representantes da auto-estima da raça negra dinheiro público que é injetado nos camarotes e trios elétricos dos Browns da vida, mas Brown é marrom, e marrom na Bahia é neguinho, deve ser o marrom mas branco da cidade. Estava ficando pior, cada vez mais reprimido para ficar em casa.
Ainda resistia no sábado, liguei a Internet, e fiquei impressionado com o esquema de segurança do carnaval, fiquei imaginando que a Polícia Militar da Bahia poderia prestar consultoria em vários eventos carnavalescos ou ocupação de países em guerra, talvez prestar auxílio à milícia USA no combate a guerrilha iraquiana. Que mau gosto, está ficando muito sério este texto. Liguei para um amigo com ares animado para sair no sábado, e a primeira coisa que perguntei foi: _ E aí como está o carnaval? Está muito violento? Ele ficou sem entender porque eu estaria ligando 10:00h da manhã para perguntar aquilo, depois confessei para ele que não estava animado para o carnaval, ele me consolou dizendo que também não, contudo me deu vontade de sair já que não está tão violento, e ver a demonstração dos pelotões militares. Diga aí, Diga aí, aiai: É só alegria?

P.S.: 147 detidos, sendo que 101 foram no Circuito Dodô. Lesão Corporal e Agressão Física/rixa 36, sendo que 21 foi no Circuito Dordô. 81 furtos, sendo que 73 foram no Circuito DorDor. Ocorreu um total de 280 sacanagens (expressão minha), sendo que 211 foram no Circuito Dódó. Fonte: Centro de Estatística e Documentação Policial (CEDEP). Eu fiquei lendo o jornal e a matemática está errada, logo em cima do quadro que eles chamam de “Balanço no primeiro dia do carnaval 2005”. A uma nota do repórter Cristóvão Rocrigues dizendo que tiveram “Mais de 100 abadás roubados”. Pelo registro da política ocorreu 11 roubos, estes dados estão estritamente ligados aos circuitos e horários do carnaval. Já que existe o Carnaval para turista ver, existe também a violência para turista ler, até que um dia passe ser a vítima fora ou dentro do Carnaval.

Afeto aquilo que nos afeta

Dedico este texto a Edson Calmon e Jonar Brasileiro

Uma idéia começa com uma linha...

Passei horas pensando na proposta temática que me emaranhei...ficava como um gato a brincar com a ponta da linha do novelo, quando mais eu puxava mais embolado ficava...

Como poderia tratar do “afeto como proposta terapêutica!” ou o “afeto catalisador”...que difícil proposta eu me propus. Pensei: “começo a abordar pelo conceito de transferência”...não! Definitivamente o termo não trazia calor. Imaginei por alguns instantes que na faculdade não nos ensinam sermos afetuosos, e a afirmação, voltou como pergunta: “afeto como proposta terapêutica?”. Não me lembro desta aula...a manifestação do afeto era o calcanhar de Aquiles do psicólogo, alguns professores até concordavam que isso poderia se manifestar numa relação terapêutica, diziam eles: “tudo bem, somos humanos, podemos mostrar nossos pontos fracos”; ou então, “quando a psicologia não pode ajudar, seja acolhedor”. Não, não é isso, que vejo em Nise da Silveira, o afeto não surge diante dos limites da psicologia. Ela propõe o afeto como proposta da psicologia. O que precisa ser dito? Nada, o afeto se sente, se expressa no olhar, no toque, no silêncio, na mínima expressão para o máximo de efeito. Antes de o homem aprender a pensar e a olhar; sentia, olhava e tocava.
Um dia estava desenvolvendo um trabalho no grupo escolar, e de repente uma das senhoras que participava do grupo de discussão, me chamou de “bichicólogo”, obviamente estranhei a expressão, mas ela tinha construindo um novo sentido para o psicólogo, e falou que era uma junção de “bichano” e psicólogo. Era assim que ela tratava o filho dela, todos os outros membros do grupo, riam e concordavam. Eu era uma espécie de psicólogo gato, não pela beleza, modesta parte, mas porque se constituiu afeto na relação, confiança; mas também, muitas vezes, fui colérico. Poderia ser dócil e amável, mas poderia assumir meu aspecto feroz, como diz Nise sobre o simbolismo do gato.
Em nenhum momento, isso foi explicado para o grupo, mas elas sempre me dirigiam desta forma, “bichicólogo”, eu despertava nelas um animal interno, como diz Nise, “a psicologia terá de dar muito atenção ao animal no mundo interno do homem, animal que faz parte intrínseca de sua evolução tanto biológica como psicológica, e do qual a função configuradora de símbolos do inconsciente se utiliza para exprimir forças muito profundas” (O mundo das Imagens, p.113). Mas como isso se relaciona ao afeto catalisador? O animal, dito irracional, estabelece vínculos de confiança com as pessoas para que elas possam se sentir mais seguras nos seus processos de aprendizagem, solidão ou escuridão da alma. Nise chama os animais de co-terapeutas, a primeira vez que li isso, achei uma ofensa, como eu posso passar cinco anos para ser um terapeuta, e um animal só por ser animal é um co-terapeuta. Mas depois entendi que deveríamos aprender observando a natureza, não apenas a natureza do mundo externo, mas a nossa natureza interior.
Primeiro amamos a nós próprios, depois amamos os outros e a quem nos ama, a minha felicidade será constituída junto com a felicidade do outro. Se estiver difícil de atravessar a ponte, pegue na mão da pessoa, ensine a ela a olhar nos olhos para que não olhe para baixo, e se algum momento ela tiver medo de cair, diga que vocês estão juntos. Precisamos constituir vínculos que diminuam nossa ansiedade e angústia de estar no mundo, e que a vida seja uma eterna aprendizagem ao lado do outro e ao outro lado.

Colando a Alma

Colando a Alma

02 de Agosto


Olá ........,

Esta missiva será breve, honesta e alegre. As pessoas nunca poderão saber o que é ou o que foi o sentimento do outro, mas só em dispensar um gesto de humanidade, dirigir o olhar e ficar em silêncio se não puder ajudar é um conforto para aquela alma despedaçada. Fiquei muito contente porque você expressou no segundo parágrafo o mais doloroso sofrimento de alguém que amou, a indiferença. Que bom! Você queira observar e mudar a sua impulsividade, eu tenho certeza que não é fácil para você, mas não procure o caminho do racional (“da política”), pelo menos com as pessoas mais próximas, apenas pense que a pessoa ao seu lado não precisa se machucar com as suas fagulhas.
Peço licença para reproduzir uma frase inteira sua: “...o grande problema foi você ter me amado demais,... “. Para mim, amar alguém não é e nunca vai ser um problema, amo, amo muito e sempre amarei as pessoas com a mesma intensidade e sinceridade que te amei. Eu tinha algumas dúvidas sobre isso, mas percebi, com o fim da relação, que eu amo amar, gosto tanto de ter uma relação sinceramente amorosa, que às vezes penso até que é egoísmo. Agora, não confunda! Eu sempre tive a minha personalidade, sempre fiz as coisas que eu gosto, e cultivei as minhas amizades na relação, se eu não gosto de turma é com ou sem uma relação, eu sempre te disse isso, aliás, os meus amigos são raros, poucos, sinceros, e eu os amo, dizem que os bons amigos sempre aparecem nas horas difíceis, eu descobri muita gente que me ama.
Entenda que eu gostava de estar o tempo todo ao seu lado, mesmo calado, em silêncio, fingindo que não estava te vendo, te amando em sussurros, a sua companhia me oferecia conforto. Um conforto espiritual difícil de explicar, eu apenas me sentia muito bem ao seu lado, e queria que você fosse aquela pessoa que eu contasse coisas que só você poderia saber, mas nem isso você consegue entender no amor. Percebi com o fim da relação que eu aprendi na minha vida uma maneira de amar, muita companheira, muito familiar, muito doméstica. Amar para mim vai ser algo sagrado, será um sacerdócio, um momento de subversão, de liberdade, poucas pessoas sentem ou entendem o que estou falando, sempre pintam o amor com cores pardas, não entendem que amar é um arrebatamento. O sexo vai ser um ritual, a missa, um momento de meditação, reflexão, consumação amorosa, o princípio das coisas, a simbologia do viver, a magia da multiplicação e no amor o mistério da expansão.Como você mesmo disse estou pronto para amar uma Outra pessoa, tão intensamente quanto foi com você, por falar nisso sofri da mesma maneira que te amei, eu acho que por viver a sinceridade dos meus sentimentos é que eu consigo sorrir agora. Seja Feliz...

Um caloroso abraço e um beijo fraterno
Victor.

Nua solidão

O homem ao se despir e mostrar sua solidão deixa de estar só. Encontrei na obra de Drummond, uma voz, que se multiplica em muitas, onde encontro um sentimento de solidão e acabo por não estar só.
Sinto-me só no mundo, encontro abrigo no peito dos meus amigos, no seio da minha mãe, na mão escorregadia da minha irmã. Não sei onde minha voz ecoa, inúmeras vezes parece que o som estridente dos meus pensamentos cai no buraco oco dos sentimentos das pessoas. O que fazer? Poesia, falar para si próprio no papel àquilo que nem todos querem ouvir, mas querem ler no silêncio da solidão, e estando só percebem que não são os únicos.
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O sofrimento deve ser compreendido, aceito, não refutado, ele é essencial ao ser humano, para suas mudanças e transformações, só que aceitar e compreender o sofrimento não anula os sentimentos envolvidos, as pessoas continuarão sendo tratadas de acordo com o sentimento expelido por aquela dor, se for mágoa, será mágoa, aceitar e compreender não implica em anular, deixar isto claro, ele (o sofrimento) existe, com toda as conseqüências

"Relatos de uma guerra que não acabou"

No dia 04 de abril de 2003, vinte dispostos jovens se encontraram protegidos dos mísseis americanos e da temida guarda Republicana do Iraque, o local “secreto” do encontro ocorreu em um dos túneis refrigerados da Faculdade Ruy Barbosa (sala 002), com a missão de refletir, desabafar, chorar pelo pior dos seus inimigos: a angústia.. A proposta temática era “Guerra no Iraque”, mas a guerra interior era o que estava mais subjacente naquele discurso que apontava o outro como devastador e ignóbil.
Foi esclarecido, inicialmente, por um dos jovens, que algo nos movia para estarmos por livre expressão da vontade, dedicando uma tarde de sexta-feira a pensar sobre questões aparentemente tão distante de nós. Este jovem de corpo esguio e cabelos encanecidos apontou para os ígneos “bombardeios” que nos atingem: a informação. Assim como o Iraque mostra-se indefeso diante da tecnologia bélica americana, nós também nos mostramos indefesos diante da tecnologia da informação americana. O canal americano de notícias (CNN) cobre a guerra durante vinte quatro horas, fornecem as imagens, o modelo jornalístico e o modo de pensar americano. A nossa razão, o nosso “antimíssil” dos bombardeios da mídia, se encontra obsoleta, não há mais defesas das subjetividades.
As imagens da guerra são tão reais quanto um filme de ação, e os filmes de ação são tão fictícios quanto a imagem da guerra. A banalização da imagem, da informação, da vida humana não permite reflexões críticas, e assistimos as atrocidades com um saco de pipoca e Coca-cola esperando que um “homem-bomba” exploda alguns soldados americanos, ou o avanço da Colisão, progressivo e veloz a Bagdá, devolva a paz e a democracia ao Iraque: “a 50 Km de Bagdá...a 30 km de Bagdá...Chegaram ao aeroporto”, respiramos aliviado, que bom! (este texto pode estar desatualizado, eles podem já estar em Bagdá). Todas as idéias contemporâneas maniqueista são simbolizadas por duas figuras: Bush e Hussein. Deus e o diabo que mandam seus anjos, com ou sem tecnologia, para matar ou para morrer, oferecendo prêmios ou condecorações que vão pendurar na porta do céu ou do inferno.
O jovem ancião diante deste quadro lançou as perguntas: “que consistência há para estas duas pessoas agirem?” Se temos uma quantidade imensa de pessoas a favor da guerra, e de pessoas que se propõe a exterminar ou serem exterminadas, há algo que impulsionem estas pessoas?” Um longo e esperado silêncio tomou a sala, o máximo que eu conseguia ouvir era as respirações ofegantes, os olhares distantes estavam focando o interior, as cabeças baixas. Até que...até que a resposta ficou suspensa no ar, e surgiu o primeiro desabafo. Um sentimento de impotência, culpa, responsabilidade por esta e outras guerras cotidianas que nos circundam, todos tem dentro de si uma perversão e uma capacidade incrível de justificar os seus atos. Vergonha da guerra, vergonha da sociedade, vergonha do motivos da guerra, mas não há o desejo de abrir mão da estabilidade e dos prazeres para resolver problemas do mundo, o máximo da ação é reunir numa sexta-feira à tarde, desabafar e voltar para a casa em paz, estas foram as falas do primeiro desabafo, e o estopim para que surgissem outros.
Talvez ela não percebesse, mas se reunir numa sexta-feira à tarde já era um grande passo: “Com angústia e liberdade se forma a aventura humana (...) no neurótico desaparece a liberdade e resta só angústia” (López Ibor, citado por Saback)[1]. Como já foi dito nós estávamos reunidos por uma “livre expressão”, aquilo que poderia transformar-se num sintoma somático, transformou-se numa ação, a angustia associada à liberdade permitiu que ela se movimenta-se para sala, para a cadeira, para o verbo. E, assim, desencadeou momentos sublimes de expressão. Cada fala repetida, acrescentada, renovada, era um momento único da ação, o discurso em si próprio se afirmava. Naquele momento pudemos ficar distantes da vigília institucional do discurso, e livre dos sentidos que ele poderia trazer e nos comprometer, ficou estabelecida uma cumplicidade tácita, nos dando a plena liberdade de expressar as nossas emoções, revoltas e reflexões; o discurso lógico, foi aos poucos ficando distante da “sacana da razão”. A lógica era um vício do discurso, que se misturou com as lágrimas de um dos participantes, ao denunciar as contradições entre a ação e os ensinamentos acadêmicos. Esta contradição, que não poderia faltar o termo do final do século XX, é “globalizada”.
E quando retomamos a pergunta inicial, qual é a consistência que permite a ação dos centros de poderes? Chegamos a conclusão que é a decisão e a escolha de cada um retorcida e disfarçada na forma de cultura, que importamos não só a tecnologia, mas a linguagem, a comida, a roupa, o cinema etc... nos tornando consumidores compulsivos das american drugs, que justificam um sistema para sustentar os nossos vícios, e que antes de qualquer impulso para percepção do outro, colocamos na frente da “humanitária” razão, os nossos “prazeres”. Surgem outras questões estamos livres da guerra, do espírito belicoso, do sentimento de destruição, do desejo perverso de defender os meus prazeres? Este texto é apenas uma multiplicidade, no melhor estilo foucaultinao, da efemeridade do discurso, que repercutiu, inovou, e multiplicou-se em cada participante daquela sala, tornando-se eterno.
[1] SABACK, Eduardo. Angústia e Contemporaneidade. In: Revista Estudos Acadêmicos. Maio 2002 – Ano 4 – n.º 01.

Sábias da alma

Caramba...que dia! Tédio...um suspiro no meio da noite, profundo e lento, soltando ar quente e me perguntado o que fazer, me sinto às vezes nas tramas de S.Becket, "Esperando Godot". Tudo bem, nem tudo está perdido, na página 47 da Veja, encontro com Ana Hickmann no biquini lindo e estufando os seios, com a seguinte frase "os cristais e o cetim são responsáveis pelo brilho chiquérrimo dos vestidos. Eles transpiram poder..." Não poderia existir frase mais verdadeira, a palavra "poder" associada a um verbo "transpirar", certamente utilizado no sentido de "manifestar, exprimir, exalar"; mas que ao ver seu corpo quase nu, associei a "fazer sair pelos poros", "suar". O que revela labuta, trabalho, esforço para alcançar algo, mas tendo como fonte critais, pedra preciosa, cientifica, lapidada, resistente e a delicadeza do cetim, macio, frio, leve. Essas aparentes ambiguidades são fontes do poder, e precisam ser bem associadas na prática, num vestido que seja... e quem falou isso foi uma mulher no momento auge de inspiração e observação mais sutil da realidade. Exalando o que tinha mais sublime do desejo feminino, poder. O romantismo foi criado pelos homens...na página ao lado, se esforçando para ser um filósofa existencialista estava a simpática Cléo Pires, que disse "A cada dia eu busco a felicidade. E gosto de pensar que sou responsável pelos meus atos, que posso decidir aonde vou". Estas influências do pensamento existencialista que relaciona liberdade a decisões, ou pelo menos pensar que decide, leva a algumas distorções. Tomar decisões é árido, difícil e sempre termina pela escolha do menor sofrimento, tomar decisões é escolher algo, e abandonar outro algo. Ela precisaria definir o que é felicidade. Talvez seje pensar que é livre, mas é incompatível ser feliz e ser livre, todo processo de liberdade envolve duras condições de combate. Eu diria um pouco mais, ser feliz é quando tomam decisões por nós, porque queremos que tomem decisões por nós, ser feliz é ignorar se é livre ou preso, senhor ou escravo, ser feliz não é optar pela responsabilidade, mas poder ser irresponsável. Até porque não somos livres, quando nascemos filho de Fábio Júnior e Glória Pires. Se eu pudesse realizar um desejo diante de Deus, iria pedir para ser feliz sem precisar saber, pensar ou falar sobre felicidade. Sempre seremos escravos das nossas necessidades e contexto, não é a razão dona do destino... As mulheres sempre me ensinam muito...mesmo sem saberem disso, são grandes sábias da alma.

Friday, June 23, 2006

o reverso da mentira

Um poema tido (lido) cem vezes, deixa de ser um poema...

Senão Palavras!


O que há no amor? Senão palavras!
Espero o momento certo para dizer: “te amo”
mas este momento não existe
O momento certo para dizer: “quero ficar com você”
Dormir ao seu lado
Beijar suas mãos
Acariciar seus cabelos
Tudo um desejo
um sonho
Que acabo de acordar

No amor...palavras?
Digo “te amo”
E você me diz “sim”
E você me diz “não”
E o que não é amor, o que existe?
Palavras!

Palavras para dizer: “sinto muito”
Palavras de despedidas
Palavras suplicantes
Ne me quitez pas
Palavras de perdão
Palavras para ficar
Palavras para partir

E com palavras
Construímos nossos mundos concretos
Quebramos nossos corações de pedras

Queria poder nada dizer
nada pensar
Apenas te amar
Despertar ao seu lado
Talvez seja isso,
O momento certo de amar
é quando não precisamos dizer mais nada
E concluímos nosso longo silêncio com um “beijo doce e sorrateiro”

Cronologicamente Falando

Estou numa idade interessante, já fiz tudo que podia ser feito para a sociedade me reconhecer, e me fagocitar dentro do processo sócio-econômico, estou aqui!...esperando...esperando...esperando.... Dizem que no próximo ano, aos 30 de existência, estarei organicamente declinando, graças! Estava esperando este dia chegar, outros dizem que é a idade, também, do declínio psiquíco, será? Organicamente sempre tive entre as planices, psiquicamente tenho a sensação de que nunca saí dos 17 anos, como algo pode descer se nunca subiu? OU há algo errado comigo, ou errado com os outros, estamos num descompasso.São muitas teorias para um homem só. Esta história de idade x maturidade está me pertubando ultimamente, idade cronológica, idade social, idade física. Deixe-me ver, vamos começar pela idade cronológica, 29 anos; idade social, 23 anos, é uma boa idade, é como se estivesse ainda na faculdade; idade física, 31 anos, preciso dormir mais, comer melhor, me exercitar. Muito complicado isso tudo. Então, acho preciso ter uma idade física de 23 anos, e uma idade social de 31 anos, e uma idade cronológica, poxa, nessa não pode mudar. Quero ter 82 anos de idade social, bacana, todo mundo olhando pra mim com aquele ar de que vivi o suficiente, uma pessoa experiente e tem algo a dizer, bom isso! Com um corpinho de 29 anos...melhor, não!? Fiquei preocupado... e se eu me confundir e deixar me influenciar pela idade social, e ficar impotente com 29 anos, já imaginou? Que loucura, esqueçam estas idades...porque não simplesmente Viver!

Orvalho

Estou a procura de inspiração poética, estou nu. É importante está nu, agora, para escrever. Sinto a gravidade, o vento, o peso do meu corpo, o frio.

Voluptuosa Flor
A rosa do meu jardim
Não é a rosa do meu jardim!
Seria a minha rosa do jardim?
OU, a minha rosa do meu jardim?
Não seria, não!
A rosa fora antes tocada pela terra
Acariciada pelo vento
Molhada pela chuva
Aquecida pelo sol
Beijada pelo pássaro flor
Cheirada pela criança
Admirada pelos namorados
A rosa não é minha
E nem a si própria ela se pertence
Não fui o seu jardineiro de outrora
E o meu jardim?
Não é mais do que os meus pensamentos
O seu jardineiro até então foi a natureza
Ou quem preferir a vida,
Aquela que nada trazemos e nada levamos
Nada deseja, mas é por tantos desejada
Foi nesta nimíade de plenitude
Que afiou os seus espinhos
Coloriu as suas pétalas
Fortaleceu a seiva
Aprofundou as raízes
Hoje eu sou o seu oirartnoc oa orienidraj
Do seu corpo eu bebo o orvalho
Sacio a minha sede
Encharco a minha alma
Nas suas raízes eu me sustento
Nas pétalas eu me perfumo
E amiúde nos seus espinhos eu me furo
No meu jardim eu guardo esta flor
E a preservo para que eu possa ser preservado
Voluptuosa Flor,
Secreta para mim sua seiva
Secreta para mim o seu jardim
Secreta para mim sua vida
Para que da ponta da minha língua
Eu guarde os seus segredos.
(victor)

Thursday, June 22, 2006

O gafanhoto

P – desvendar mundos pode trazer alegrias, tristezas ou indiferenças, nem sempre é a expectativa desejada. Um acha lindo o que outro acha uma completa estupidez. E quem é certo? eu não sou! Nem com o que eu digo, nem com o que eu penso. “A vida é desenhar sem borracha”, Millôr Fernandes. Para quem tem lápis, Millôr, para quem tem lápis! Ih, a minha ponta quebrou, alguém tem apontador? Mas o que era mesmo que era para ser visto, se o gafanhoto pulava alto, Há, há, há! Se o gafanhoto pulava. Ele pula e eu também, um dia caímos fora, mas normalmente caímos dentro, mas vamos pulando! Pula gafanhoto que o dia precisa passar.


P – A vida é a prova da prova! É ler, decodificar, interpretar e expor idéias a eternas apreciações. Nossas idéias estão o tempo todo sendo vigiadas, todos querem saber seu grau de normalidade. Participar de mundos, entender esses mundos, ou fingir que entendeu, o importante é que as pessoas não saibam que nós não sabemos nada, porque aí nós sabemos demais...Que horrível, sem originalidade... “Conhece-te a ti mesmo”. Vamos fingir que está tudo bem. Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2 + 2, ah 4 ! Você é um menino inteligente Joãozinho, já pode participar do nosso grupo. Estou cansado destes rebanhos que estão felizes porque ensinam as suas limitações e ganham um salário por mês. E vai ser diferente? Não, mas vamos aprender as suas limitações e provar que sabemos o que eles estão dizendo. E quem sabe não ensina o que sabe, porque este sabe que não sabe nada, mas ele não diz, ele não ensina o que sabe, porque isto não pode ser dito, é melhor que todos saibam que ele sabe, e então ele ensina o que querem, mesmo sem saber. Se a rocha falasse, mas ela não fala, porque ela sozinha é grão; e ela precisa fazer parte da montanha. As pessoas jogam com a ignorância da outra, e assim o mundo vai. Bom dia, Senhor...Bom dia, Senhora. Quanto é mesmo 2+2, ah 4! O GAFANHOTO pula alto e um dia eu pularei também.

Antes que eu me esqueça

Um dia um autor Russo, russo de doer, disse na última página do livro "A voz subterrânea", um homem que revela suas confissões só pode ser por vaidade. Ora, estava se referindo a Rousseau, mas também se referia a si próprio ou a persongaem que criará. Pouco importa, Rousseau, a persongaem de Dostoievsk, ele próprio, eu, somos todos personagens de um teatro que não sabemos o roteiro, a peça, nem o autor, e precisamos montar, guardar, lembrar, registrar, publicar, pequenos fragmentos que nos re-constroém, que nos dá sentido, procuramos de alguma forma amarrar as linhas perdidas.

Uma leve chama

O que nós somos?
Um olhar partido
Uma leve chama
Uma alma de poeta
A sinceridade de uma criança
Alguém que precise ouvir “Venha! estou aqui”...chama!
Mas tudo que podemos dizer “Fique! estamos aqui e você aí”...leve!
Talvez juntos, mas a única coisa que nos une é a Poesia
Virtual, é tudo e não é nada.

Desaquarela

Desaquarela II

Num ataúde qualquer eu coloco um corpo sem vida
Preparo o jardim, recolho a terra pro futuro entrar
O futuro...é um mar de flores lindas coloridas
para o corpo inerte disfarçar

Negam aos olhos, mas não às narinas
Impregna-se no ar um forte cheiro
de flores, formol e carnificina
Segue o tempo corriqueiro

Um futuro incerto que descolorirá
Uma flor sem vida que descolorirá
Um barco sem rio que descolorirá
Um filho sem pai que descolorirá

Discurso de Formatura

eu escrevi em torno de 10 discurso, até chegar o resultado que aqui apresento, quem sabe um dia apresento os outros:

"Boa noite a todos,

Eu agradeço, em nome de todos os colegas, aos amigos e familiares que vieram consagrar cinco anos de dedicação aos estudos. Cinco anos, dez semestre, oito ou nove disciplinas por semestre, trabalhos monográficos...hoje somos instigados a produzir o saber e a estudar a toque de marcha, e perdemos sutilezas do pensamento que só surgem no silêncio. Principalmente sutilezas éticas que sempre devem acompanhar a produção do saber e a prática profissional.
A ética é a busca de justiça, já dizia Platão, e justiça é um “animal astucioso que se esconde numa touceira de mato. Ela pode fugir das nossas mãos, escapar sob nossas pernas. E mesmo quando agarrada, podemos perdê-la. (...) Assim, para chegar até à justiça é preciso atenção, muito cuidado”, e precisamos de tempo. No momento que eu li isso, é que me dei conta que o ritmo é outro, que devemos sim pensar neste tão almejado progresso do Brasil, mas de nada vale um sociedade muito bem organizada, produtiva e vazia. Vazia de valores, vazia de relações sadias, vazia de arte, vazia de alma. Somos empurrados para atender um mercado que preza pela eficácia prática. Toda e qualquer profissão tem um compromisso com o bem-estar coletivo, e falo isso para todos os colegas que se formam hoje. E precisamos criar estratégias para diminuir a abismal diferença de renda que existe no país. Bastam vocês virarem o pescoço para o lado esquerdo e saberão do que estou falando.

Contudo, é necessário o debate. E mais do que nunca a faculdade precisa contribuir para este problema vivo, latejante, esta ferida aberta que irá influenciar nossa postura profissional para o bem ou para o mal. Mas a nossa preocupação é administrar um trabalho monográfico, é a nota de uma disciplina, é a quantidade de faltas... estes são os referenciais reforçadores de um aluno formado com honra. É necessário estas regras e critérios para um bom desempenho? creio que sim, mas não é tudo. Com isso, eu não estou dizendo que devemos nos colocar na posição de juizes do comportamento alheio; mas devemos refletir e mudar as nossas pequenas falhas éticas, eu prefiro chamar de falhas de convivência. O capitalismo instituiu o imperativo do lucro, da competição, do progresso, do “tempo é dinheiro”. Então quando negligenciamos este respirar fundo e lentamente, e não damos tempo a nossa razão e emoção, estamos negligenciando nossos sentimentos, e saímos atropelando as pessoas porque precisamos ser práticos.
Eu tenho muito medo de perder minha indignação diante da vida. Esta turma foi um exemplo de indignação, conseguimos realizar um movimento estudantil, se conseguimos ou não nossos objetivos é só um detalhe, alguns estão se formando hoje outros não. Mas eu não vou perder minha indignação, é ela que movimenta o olhar crítico e não podemos perder sobretudo a generosidade do riso. Tem certas situações da vida que é preciso dar risada, mas uma risada verdadeira, forte e penetrante. É preciso manter em nossas vidas o humor, não o humor rasteiro, mas o humor satírico, provocador, na justa medida para que não paralise as relações.

Por fim, queria agradecer a três pessoas que conseguiram fazer da faculdade um ambiente diferente: a Marilene, uma pessoa que eu nunca vou esquecer com seu jeito tranqüilo, muito carinhosa; e a Adriana sempre atenciosa, gentil e bonita.

Fiquem em paz e boa sorte na vida para todo mundo".

"É perigoso viver"

Ouvir isso às 6:00 horas da manhã do dia 14, mês de junho, um dia antes do meu aniversário, muito sonolento. A um dia para os 29 anos, minha mãe me revelou que era perigoso viver, e quando mãe revela essas coisas, é melhor prestar atenção. Pensei comigo, ora, se é perigoso viver, então é preciso estar em perigo. Passei estes anos todos pensando que os perigos estavam nas minhas decisões, porque antes desta frase, quantas vezes já ouvir, "menino, é melhor ouvir sua mãe, depois você toma suas decisões...sei não!?". Que mania terrível, as mães quererem ser legisladora, advogada, promotora, e juiza das vidas do filho. Mas num lapso, ela disse a frase que me acordou...tanto faz as nossas decisões, vamos sempre estar em perigo. Se é perigoso viver, é preciso estar em perigo, pois nada é preciso, a não ser a morte.