Sunday, August 12, 2007

Vagas lembranças, Muitas Histórias


fonte: http://www.mcescher.com/


VAGAS LEMBRANÇAS
Naquele momento de tristeza
Não me lembro das lágrimas
Só de um rosto pálido...triste!
Sem querer partir
Me lembro de um barco cheio de flores
De um barco sem mar
De um barco sem vida
As flores... eram tão belas tentando encorajar a sua partida
Agora, eu sei para que existem as flores
Vagas Lembranças
Veja um menino sentado, sozinho
Triste...??? Não me lembro
Talvez estivesse esperando uma resposta
Que demora de chegar
Quantas vezes mais este menino
Terá que embarcar a dor
Terá que embarcar a flor.
Técnica de Autobiografia
Fase 1
Às vezes eu tento lembrar de fatos anteriores aos 5 anos de idade e não consigo, parece que minha infância, minha memória e minha vida nasceram num mesmo dia, 1º de outubro de 1982, talvez a data não seja esta, mais isto não tem a menor importância, o que é relevante nesta data, é que foi o dia que meu pai morreu. Foi um dia de agitação lá em casa, não sei se as minhas lembranças surgem a partir das vivências dos acontecimentos, ou foi pelo fato de ter escutado esta história da minha mãe. O fato é que na noite anterior, ouço muitos choros e não sei o porquê, o quarto que eu dormia tornou-se numa cela da qual eu não podia sair, ele se tornou mais escuro e me parece que minha irmã ficou comigo, sete anos mais velha. No dia do enterro as coisas me pareciam mais claras, também era dia! Como eu estava dizendo foi um dia de agitação, a casa não parava de chegar parentes, e algumas pessoas apareciam com aquelas conversas idiotas que papai foi para o céu. Eu chorei muito para ir por enterro, não que eu quisesse ver o corpo, mas me pareceu que lá que era festa, houve uma certa resistência por parte de todos, mas diante de um escandaloso choro, meu tio psiquiatra achou por bem me levar. Eu já escrevi uma poesia sobre o momento no cemitério, não me lembrava da parte externa ou interna do cemitério, me lembro que algum tio me pegou pelo colo, e me levantou diante do caixão, na poesia eu chamo barco de flores, pois ficou registrado uma imagem de um homem negro, coberto por flores coloridas, protegida por uma fina camada de véu branco, do qual destacava seu rosto. Na seqüência de imagens, o garoto se recolhe num canto, senta num batente e brinca com as pedras. Na poesia eu me pergunto quantos barcos mais eu vou ver partir.
Ainda nesta idade ou um pouco depois, me lembro que brincava de aventureiro pelos becos do condomínio, que era formado por muitos prédios e muros, sempre acompanhando os colegas nas escaladas e passagens secretas. Eu tinha um amigo, que dormia com mais dois irmãos homens no quarto, e a menina dormia no quarto separado, no quarto do fundo, pois o apartamento só tinha dois quartos centrais, ainda tinha o pai e a mãe. Não sei por que mais eu achava a casa deles tão cheia, mas a diferença para minha família só era de um membro, talvez pelo fato da minha memória só iniciar com a morte do meu pai, ai a diferença aumenta para dois, é um valor significativo para uma família. Tinha um tio no antigo bairro, meu tio Eduardo, que já morava conosco, só que eu não me lembro da sua presença na casa. Eu só me lembro da presença dele no bairro que eu moro hoje há 25 anos, justamente a data de morte do meu pai. A palavra pai é quase sempre oca para mim, não consigo atribuir nenhum significado a não ser o trivial, o que casa com a mãe e tem um filho. Tem certas imagens que eu não sei se foram alimentadas pela insistência de fotos e histórias de minha mãe ou se são minhas enquanto experiências, mas me lembro de um velotrol vermelho que eu descia uma imensa escadaria de cimento, e no qual meu irmão pegava carona ficando em pé num apoio que tinha no fundo, um dia ele saiu de vez e eu bati a cabeça no chão, eu acho que foi a partir daí que a nossa relação sempre foi estranha, um pouco de exagero, não é?
Também, tem uma outra imagem, com a mesma ressalva anterior, que era eu tomando banho, me deu vontade de escrever “com o velho” (meu pai de forma carinhosa), e ele estava me ensinando como passar sabão num rosto, era uma coisa grandiosa para uma criança, aquele rosto negro todo cheio de sabão branco, eu queira fazer igual, na minha primeira tentativa conseguir dois olhos irritados pelo sabão e muito choro, ele me consolou e rapidamente lançou o jato de chuveirinho sobre os meus olhos, esta imagem do herói atravessa a humanidade, mas são coisas simples que enchem de alegria e dão cor a vida.
Ocorreu uma outra lembrança, após a morte do meu pai, estava pronto para ser uma criança insegura, todos os primeiros dias de aula eu chorava como criança (há, há, há! eu era uma criança) e queria voltar no rabo de saia da minha mãe (desde pequeno que eu gostava de um rabo de saia), como foi logo após o ocorrido (a ausência eterna do meu pai), ela até que se tornou condescendente, mas depois, eu me lembro que eu ficava horas chorando, até que me integrava no grupo, ela me disse a pouco tempo que aquilo deixava ela de coração partido, mas era preciso. E ela aprendeu esta idéia de parcial independência com o falecimento do marido. Parcial, pois surgiu uma outra lição na nossa família, que nunca estamos só, nunca poderemos viver neste mundo de relações, sem um apoio afetivo e efetivo.
Uma outra imagem freqüente era eu procurando um local na casa para amarrar uma corda e descer com o amigo pela janela, morávamos no primeiro andar, era fácil, eu acho. Eu não tinha mais herói, eu era agora o herói. O restante das imagens do antigo bairro é de brincadeiras, uma delas que permanece é de minha irmã brincando com um jogo de 5 ou 6 pedras, iniciava com uma na mão e ela tinha que jogar as outras entre a mão esquerda em forma de gol no chão, enquanto jogava a pedra da mão para o ar e empurrava rapidamente uma de cada vez, as que permaneciam no chão. E por aí vai as brincadeiras...
Depois que eu me mudei de Brotas, eu tenho a memória espalhada por muitos locais até os 12 anos, e este período foi um período de imensos acontecimentos para uma criança.
Fui para um outro condomínio, mais amplo e espaçoso, foi lá que aprendi a me defender das brincadeiras perversas dos coleguinhas, de apelido, zombaria, roubo de gudes, figurinhas, brigava com os meninos maiores, tornei-me reativo e talvez um pouco agressivo, de um certa forma era sempre estimulado pelos machos de plantão da casa, a retornar qualquer insatisfação em dobro, que contradizia com o ensinamento pacífico de minha mãe. Mas uma coisa é certa, tanto eles quanto minha mãe se preocupavam com os meus estudos, nunca minha mãe teve tantas dificuldades financeiras para cuidar de três filhos, mas conseguiu educar bem todos em bons colégios, mesmo com a mudança para um bairro distante, continuamos todos na mesma escola do antigo bairro.
Uma escola com um rigor monástico, era uma escola da igreja católica, uma parte era escola a outra era um convento. Era neste local que estão as outras lembranças. Fazendo um paralelo entre meu bairro e a escola, percebo que meu comportamento reativo foi progressivo a minha convivência com os meus amigos do bairro. Na escola era o oposto, tudo muito silencioso, cheia de rigores e formalidades. Toda segunda-feira pela manhã às 6:30 cantava o hino nacional e orava “o pai nosso” coletivamente. Eu era uma outra pessoa na escola, os professores nesta fase me faziam medo, um dia estava com tanta vontade de ir ao banheiro, mas não fui e fiz coco nas calças só porque a professora estava chateada e falou que ninguém ia sair.Só que nestas condições obviamente podia sair, até porque quando eu fui até ela eu já tinha feito o serviço e eu cheguei perto dela e pedi, ela sentiu o cheiro, olhou para mim com aquela cara, pensou “algo esta cheirando mal” e deixou eu ir. Depois foi um constrangimento, no intervalo, minhas calças sujas estavam com um cheiro desagradável, e eu tive que evitar a presença dos colegas, todos que chegavam até mim assoava o nariz. Quando eu contei este caso na família, o velho e esquecido tio falou que deveria ser também reativo na escola, que eu tinha direitos, e eu que pensava que era apenas com os meus colegas do bairro... esta vida de criança às vezes é uma merda.


Na escola sempre foi muito estimulado a boa convivência, coletividade, sempre tinha festas grandiosas de comemoração de alguma data. A imagem mais marcante da escola, foi a igreja, íamos rezar, já não bastava segunda-feira no pátio, todas as sextas na igreja subíamos uma imensa escadaria em forma de caracol, escura e estreita (Freud ia adorar esta descrição) em fila sem correr, no início da escadaria sentíamos um cheiro de massa de pão, o convento fazia pão para consumo interno e eu acho que as noviças desciam as escadas com as mãos sujas de massa e pegavam pelo corrimão. No meio da escada, em um determinado andar, surgia uma sala com cores lindas em tom vermelho, era a sala de vinho e licores, até hoje são os melhores da cidade, e os nossos pulmões e narinas eram presenteados com aquele cheiro de suco de uva em fermentação. A entrada pela igreja era internamente pelos fundos, antes de chegar, passávamos por um imenso jardim, era própria reprodução do Éden, só faltava os pecadores. Ao chegar na igreja passávamos pelo altar e éramos guiado pelas laterais das paredes para sentarmos nas cadeiras, antes toda a fila de criança percorria as laterais da igreja olhando os quadros do calvário, uns quadros tristes, com cores densas e escuras, vermelho sujo e muito preto e marron, éramos obrigado a passar olhando pelos quadros, o padre falava alguma coisa que eu não entendia, mas sempre achava bonito e os garotos sentavam juntos e ficavam se comunicando através de sinais, enquanto a diretora (uma rígida freira) e a professora tentavam nos vigiar.
Por essa mesma escada, chegava no auditório da escola, lá que eu acho que surgiu minha vocação para o teatro, as peças eram os momentos mais felizes e importantes daquele, deste e o de sempre modelo de educação. A relação de construir algo juntos, dividir nossos segredos de grupo no camarim, todos curiosos pelo o que ocorria lá e no ensaio, o momento de exaltação e criação.
Na Quinta série exatamente aos 12 anos, dificuldades financeiras, tive que ir para o interior estudar num colégio público, já que minha família julgava de melhor qualidade que os de Salvador. Morei um ano com minha vó e minha tia, justamente este é o marco da outra fase. Morar longe da minha mãe foi muito importante, apesar do ambiente ser familiar e eu adorar ficar no interior brincando, vivendo. Entre as crianças, os tipos de brincadeiras não eram de defesa e proteção, eram brincadeiras de convivência e amizade, era bonito. Nem sempre, por ser de outra cidade, precisei encarar algumas brigas no início. Para fechar o momento anterior eu falava para minha mãe que eu nunca queria crescer.




7 comments:

Anonymous said...

Ѵery nice post. I just stumbled սpon your blog
and wished to mention that I've truly enjoyed surfing
аround your weblog posts. In аny case I'll be subscribing оn уouг
feed ɑnd I'm hoping you write once moгe soon!

Alsso visit myy blog post; homepage

Anonymous said...

It's an awesome post designed for all the online viewers; they will
take benefit from it I am sure.

my web-site - bestshampooandconditioner.net

Anonymous said...

Hello! I've been reading your website for some time now and
finally got the courage to go ahead and give
you a shout out from Lubbock Texas! Just wanted
to tell you keep up the good work!\

Here is my web site ... camiseta de argentina mundial 2014

Anonymous said...

Steam gauge assemblies are a bit of a pain, along with the four fission batteries.
It certainly is for Tom Stemberg, now a billionaire and Mitt Romney who cashed his way to becoming the
Massachusetts Governor and, now, presidential candidate.
The more options you create for your customer the greater the
chance for a sale.

Also visit my web page ... บ้านตู้คอนเทนเนอร์

Anonymous said...

Hi, I do think this is a great website. I stumbledupon it ;) I will return yet again since i have
saved as a favorite it. Money and freedom is the greatest
way to change, may you be rich and continue to guide other people.


Feel free to visit my web site - led grow lights For sale

Anonymous said...

One of the best ways to bring a unique look to your jewelry store is to get display stands that
are attractive. Rather, they mean that they will never be beaten on price for their top-class designs and products.

For me, If I want to get FV Cash, I choose surveys that really pays it's members, I take that money I get and then I
buy the farmville cash that I need and I still have a more money
that i can use it to buy the other things i like on the
web.

my website - how to get customers

Anonymous said...

to agreeing to a all-embracing hearing of how imperative creditors can be.
These tips urinate up one's mind ameliorate your dark red later a softly towel drying it
with opposite metals so that you create by mental act can be streamed springy,
that render you direct natural action on alive products.
They form it TV show Stephen Gostkowski Jersey
Prince Shembo Authentic Jersey Kion Wilson Jersey Scott Chandler Jersey Bradley Roby Youth Jersey Randy Starks Jersey Bo Jackson Jersey tom savage jersey Carlos Rogers Jersey Zack Bowman Authentic Jersey
Mason Crosby Jersey Ramon Foster Jersey Pat Tillman Jersey David Bakhtiari Womens Jersey Sealver Siliga Jersey
Marqueston Huff Authentic Jersey Kion Wilson Jersey Jonathan Martin Jersey nick foles womens Jersey Willie Colon Authentic Jersey Trent Williams Jersey Steven Hauschka Youth Jersey Jared Cook Authentic Jersey Eric ebron authentic jersey Charles Godfrey Womens Jersey Branden Albert Womens Jersey system commerce with you.
This wish avail you when you create mentally as some spot as you put together a
swear at likely properties done the eyes and eater ,to foreclose any fat in contrary metals and scintillation sun sexual climax into connection with your electronic mail commerce
strategies believe

Feel free to visit my blog: Stephen Hill Jersey