Thursday, June 22, 2006

Discurso de Formatura

eu escrevi em torno de 10 discurso, até chegar o resultado que aqui apresento, quem sabe um dia apresento os outros:

"Boa noite a todos,

Eu agradeço, em nome de todos os colegas, aos amigos e familiares que vieram consagrar cinco anos de dedicação aos estudos. Cinco anos, dez semestre, oito ou nove disciplinas por semestre, trabalhos monográficos...hoje somos instigados a produzir o saber e a estudar a toque de marcha, e perdemos sutilezas do pensamento que só surgem no silêncio. Principalmente sutilezas éticas que sempre devem acompanhar a produção do saber e a prática profissional.
A ética é a busca de justiça, já dizia Platão, e justiça é um “animal astucioso que se esconde numa touceira de mato. Ela pode fugir das nossas mãos, escapar sob nossas pernas. E mesmo quando agarrada, podemos perdê-la. (...) Assim, para chegar até à justiça é preciso atenção, muito cuidado”, e precisamos de tempo. No momento que eu li isso, é que me dei conta que o ritmo é outro, que devemos sim pensar neste tão almejado progresso do Brasil, mas de nada vale um sociedade muito bem organizada, produtiva e vazia. Vazia de valores, vazia de relações sadias, vazia de arte, vazia de alma. Somos empurrados para atender um mercado que preza pela eficácia prática. Toda e qualquer profissão tem um compromisso com o bem-estar coletivo, e falo isso para todos os colegas que se formam hoje. E precisamos criar estratégias para diminuir a abismal diferença de renda que existe no país. Bastam vocês virarem o pescoço para o lado esquerdo e saberão do que estou falando.

Contudo, é necessário o debate. E mais do que nunca a faculdade precisa contribuir para este problema vivo, latejante, esta ferida aberta que irá influenciar nossa postura profissional para o bem ou para o mal. Mas a nossa preocupação é administrar um trabalho monográfico, é a nota de uma disciplina, é a quantidade de faltas... estes são os referenciais reforçadores de um aluno formado com honra. É necessário estas regras e critérios para um bom desempenho? creio que sim, mas não é tudo. Com isso, eu não estou dizendo que devemos nos colocar na posição de juizes do comportamento alheio; mas devemos refletir e mudar as nossas pequenas falhas éticas, eu prefiro chamar de falhas de convivência. O capitalismo instituiu o imperativo do lucro, da competição, do progresso, do “tempo é dinheiro”. Então quando negligenciamos este respirar fundo e lentamente, e não damos tempo a nossa razão e emoção, estamos negligenciando nossos sentimentos, e saímos atropelando as pessoas porque precisamos ser práticos.
Eu tenho muito medo de perder minha indignação diante da vida. Esta turma foi um exemplo de indignação, conseguimos realizar um movimento estudantil, se conseguimos ou não nossos objetivos é só um detalhe, alguns estão se formando hoje outros não. Mas eu não vou perder minha indignação, é ela que movimenta o olhar crítico e não podemos perder sobretudo a generosidade do riso. Tem certas situações da vida que é preciso dar risada, mas uma risada verdadeira, forte e penetrante. É preciso manter em nossas vidas o humor, não o humor rasteiro, mas o humor satírico, provocador, na justa medida para que não paralise as relações.

Por fim, queria agradecer a três pessoas que conseguiram fazer da faculdade um ambiente diferente: a Marilene, uma pessoa que eu nunca vou esquecer com seu jeito tranqüilo, muito carinhosa; e a Adriana sempre atenciosa, gentil e bonita.

Fiquem em paz e boa sorte na vida para todo mundo".

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